Estávamos a um mês limpos, felizes, cheios de planos, tínhamos conseguido! Eu principalmente tinha conseguido ficar sem droga, era uma vitória pessoal, não sabia como iria encarar o mundo, mas meu marido estava comigo e acima de tudo a nenê, então valia a pena tentar.
Planejamos um acampamento, desde que eu havia ficado grávida, praticamente não tínhamos mais saído de casa, estava na hora de voltar à vida e dessa vez iríamos levar nossa filha.
Era uma terça feira 09 de janeiro. Eu fui ao medico com a nenê, pra ver que cuidados eu precisa ter com ela (repelente, alimentação, toda prevenção necessária pra se levar uma criança pra acampar).
Quando voltei pra casa, senti algo estranho, o dia na verdade estava estranhamente calmo. Abri o portão, meu irmão veio pegar a nenê do meu colo, eu perguntei o que foi ele não disse nada, na frente estava minha irmã, meu cunhado e o Eri me esperando, eu perguntei o que foi, o que aconteceu, aconteceu alguma coisa com o meu pai? ( meu pai não andava bem de saúde por aqueles dias) e minha irmã me falou: Foi teu marido.
O que houve com ele?... Ele morreu! Como assim... é brincadeira é mentira, é mentira e desmaiei, voltei minutos depois, meu cunhado me pondo no sofá e no primeiro instante nem chorar conseguia, quis saber o que tinha acontecido. Disseram que foi acidente de moto na marginal, extremamente violento ( não consigo descrever os detalhes, dói demais isso). O caixão dele estava lacrado. Ele tinha 30 anos, saudável, lindo, uma das raras pessoas que conheci, que convivi, que amava a vida, como eu até hoje não consegui amar.
Meu mundo acabou nesse momento, nós não éramos um simples casal, nos éramos o casal!. Nos amávamos de verdade. Perdi meu marido, amigo, companheiro, pai, filho, perdi pra morte, acabou.
Passei um ano na casa dos meus pais, não conseguia voltar pra minha casa, voltei pra desmontar moveis, queria mudar tudo.
Enlouquecia gritando, chorando me batendo, que dor absurda a de se perder quem se ama pra morte, dor maldita.
Não me importava mais com nada, já não tinha mundo que me coubesse, nem nas drogas, nem o normal, foi muito doentio esse momento na minha cabeça, na minha dor, na minha vida.
Nem minha filha me importava eu não me importava com nada, só queria morrer e mais nada.
Um ano depois comecei aos poucos a reagir, não conseguia trabalhar, comecei a receber pensão do meu marido ainda bem, eu não sabia mais o que fazer com a falta de dinheiro. Eu tinha uma filha pra criar e toda uma casa pra sustentar, estava de volta à minha casa, só eu e minha nenê, com toda a dor do mundo. Mais apegada a Deus a minha fé, do que nunca na minha vida (foi minha fé, independente de religião que me fez recomeçar depois desse maldito acontecimento).
Mas nada mais me alegrava, saia com minha irmã e amigos delas, mas não via graça em nada, voltei a me relacionar e foi horrível, sentir outro corpo, porque não era aquele que eu queria. Nada estava bom, nada prestava, nada!
O choque foi tamanho, que aquela tontura que eu vinha sentindo há anos, se instalou de vez, me tornei doente, nem sabia o que tinha mas estava doente, física, emocional e espiritualmente. A idéia de morrer não saia da minha cabeça e qual o caminho que eu conhecia?.. Das drogas, voltei a usar pra literalmente morrer, voltei a injetar, voltei a cheirar, às vezes fumava maconha, porque era também uma forma de tentar amenizar a dor. Queria sumir desse maldito mundo, não pensava em outra coisa. Nem na minha filha, minha família nesse momento foi fundamental, cuidaram, não somente dela como de mim também.
Nossa!, vocês tem idéia de como foi difícil escrever isso, eu queria dar mais detalhes, mas eu não consigo.Vai fazer 12 anos que meu marido morreu e eu o amo, sempre amei e sempre vou amar. Nem é luto, é amor. Fiz terapia, estive em religiões, conversei com pessoas que havaim passado por essa experiência pra tentar aceitar essa dor e entender esse sentimento que esta além da morte.