Me deu vontade de gritar ao mundo, toda a minha experiência com drogas, ao absurdo que essa escolha me levou. Não vou poupar palavras, palavrões, sentimentos, nenhum deles, todos seram ditos sem a menor maquiagem, afinal se não poupei minha vida, não será agora que vou medir palavras.

Tudo que ler é a mais pura verdade, como vivo agora e muitos momentos de meus diários, escrevi tudo esses anos todos. Não vou citar nomes verdadeiros, nem o meu, muito menos os daqueles que comigo dividiram esses 26 de vida no uso ativo de drogas. As informações que eu omitir será apenas para evitar que invadam minha privacidade, minha vida no momento.

Não sei que ordem vou dar a cada postagem, não sei se vou seguir ordem cronólogica. Vai assim do jeito que eu sentir vontade de contar. (Desculpem, se na forma de redigir contém erros seja eles quais forem eu sei que é agradável aos olhos ler algo sem erros, mas como não sou escritora e estou mais atenta aos sentimentos, é bem provável que vá acontecer mas vou tentar me policiar).

Caso queiram entrar em contato, para dúvidas, perguntas, alguma curiosidade - email:
existenciaativa@hotmail.com

sábado, 18 de dezembro de 2010

Eu admito: sou impotente perante as drogas.

Não adiantava mais tentar lutar eu havia perdido pras drogas... há muitos anos mas, agora por não suportar mais me sentir um lixo em todos os sentidos e precisar admitir isso, me olhar e dizer, acabou, vc perdeu, se tornou tudo aquilo que nunca imaginou que seria, que mulher é vc, quem é vc?, uma fraca que foge da vida o tempo todo? Chega de fugir, chega de achar que isso é o único meio liberdade. Era hora de reconhecer que o que tenho é mais grave É UMA DOENÇA. Estava na hora de encarar minha realidade, de olhar no espelho. Com muito medo do desconhecido, mas queria ao menos tentar, pela minha filha sim, mas por mim acima de tudo e todos.

EU QUIS era a minha hora, O MEU QUERER, eu não agüentava mais a vida que eu tinha, eu não agüentava mais fingir ser uma coisa e ser outra, eu não agüentava mais chorar sozinha. Nesse momento esqueci o “amor” pela droga e resolvi pensar em mim, e não adianta família, amigos, amores, não há sentimento vindo dos outros que nos sensibilize o suficiente para podermos parar, desde que nos mesmos não queiramos parar, não há (o sentimento pela droga é maior, a vontade de usar mais uma e só mais uma é maior).
Mas nesse momento meu querer era literalmente meu poder.
Não me sentia a vontade de ir a um lugar desses, (alguém havia me dito que ir a NA era “fim de carreira”, foi o meu recomeço de vida!) fui, eu não tinha outra opção e além do mais não tinha mais nada a perder, mesmo.

Quando cheguei naquela sala, aos poucos fui ouvindo, sentindo (conjugo o verbo sentir) o que aquelas pessoas falavam era como se fosse de mim. Vidas diferentes, mesmo sofrimento. Caminhos menos ou mais tristes, mas a mesma dificuldade e estavam limpos há meses, anos, como conseguiam? Apenas indo às reuniões?!
Me sugeriram não usar droga só por hoje, ir no máximo de reuniões possíveis, foi me dado o número de telefone de todos que estavam lá. O programa é simples, mas é milagroso!
Eu falei um pouco da minha historia e ninguém se espantou ninguém me julgou ninguém me criticou ao contrário recebi muitos abraços (como eu estava precisando disso) e palavras como: você não está mais sozinha, se quiser parar de usar drogas, seu problema agora é nosso também.
No final de 2 horas eu chamei uma das pessoas que estavam lá, falei que estava com droga, disse que queria jogar fora, pedi pra essa pessoa ir comigo ao banheiro, abri as embalagens que estavam comigo e joguei no vaso (lugar certo) algumas gramas que ainda tinha comigo e ali ficou o ultimo dinheiro que gastei com droga, ali ficou uma vida toda de uma drogada, ali ficou minha insanidade.
Dei o meu primeiro passo!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Eu não agüento mais!! Tentei sozinha e descobri que sozinha não consigo.

Pela primeira vez de verdade, admiti por completo que eram as drogas, que eu não podia mais usar drogas, me doía a idéia de não poder usar mais. Mas ou era isso ou psiquiatria. Eu tinha que parar e nos últimos 6 meses de uso, eu tentei parar sozinha ficava 3, 10, 15 dias sem usar e recaia. Mas recaia chorando, porque já não tinha mais a mesma “graça” que teve um dia, a maconha se no começo era algo que me deixava alegre, calma, rindo a toa e com fome. No ponto que eu cheguei, já não sentia mais nada disso, fumava, ficava agitada, séria, coração acelerado, triste, irritada, não tinha mais a famosa ”larica” (fome), ao contrário não queria comer, nem os olhos ficavam mais vermelhos é o outro lado da moeda com a maconha (é só observar quem fuma por muitos anos).
Boa parte dos usuários de maconha fica esquizofrênica e eu sabia que se continuasse ia ficar. Minhas atitudes e idéias não erma mais de uma pessoa normal.
No começo de 2008 eu ainda fumava maconha mas, era um pesadelo com as drogas sem as drogas, minha vida tinha se tornado algo que eu não sabia como era pior ou melhor, tanto fazia era tudo uma merda mesmo.
Mesmo depois de convulsão, overdose, psiquiatria eu ainda usava droga!
Eu precisava parar, não dava mais e nesse momento eu queria muito, muito ficar internada numa clínica pra poder me desintoxicar, mas eu não podia afinal meus pais e minha filha não sabiam, não dava, é eu também não teria dinheiro pra isso, inviável.
Continuei na tentativa de parar sozinha, parava, recaia, sofria, parava, recaia.
Chega!! Preciso de ajuda.
Era hora de lembrar que Deus existe de rezar e pedir uma luz, pelo amor a minha vida.
Não agüentava mais usar droga. Não agüentava mais a minha vida, não agüentava mais nada.
Ainda não admitia que queria, mas sabia que precisava! 
No dia 19 de março de 2008, eu havia como sempre fumado desde cedo, quando foi lá pelas 3 da tarde, usei pela ultima vez, às cinco horas eu queria de novo. Mas não! Eu sabia como funcionava, era sempre o mesmo ciclo vicioso, um circulo restrito e insano, onde eu usava droga na esperança de sentir algo diferente, eu usava buscando aquela primeira sensação de prazer e ela nunca vinha, repetir o mesmo gesto buscando resposta diferente: insanidade.
Chamei minha irmã mais uma vez e disse eu vou ligar pra algum lugar, pro Alcoólatras Anônimos quem sabe eles não me ajudam? Peguei as páginas amarelas, procurei o telefone, liguei, expliquei meu problema eles me disseram que seu quisesse ir lá, seria bem recebida, mas já que meu problema não era com álcool ele me passou o telefone do Narcóticos Anônimos. Liguei falei com uma mulher, contei meu desespero ela me perguntou onde morava eu disse, ela falou ai perto da tua casa no dia de hoje tem uma reunião, você não quer ir? Quero sim, mas será que eles podem me ajudar? Ela me disse o miníno que pode acontecer e você ficar lá por duas horas sem usar, o restante é com você.  Ta bom era comigo.
Eu vi uma esperança nessa ligação, fiquei ansiosa, mas dessa vez de esperança. Eram cinco horas da tarde, pensei não uso mais nada hoje, a reunião começa às 8 horas, era tempo suficiente pra eu chegar lá sem estar drogada, lúcida ao menos.
Peguei o restante das drogas que tinha em casa, coloquei a maconha num saco de geladinho, um pouco de cocaína que tinha no outro e sai de casa 7 horas com essas drogas escondida na roupa, sozinha, peguei ônibus e fui pensando meu Deus, tomara que esse lugar me ajude, porque senão, não sei o que fazer. E um outro pensamento se for algo bom, jogo essas drogas , se não for, saio usando de lá mesmo.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Instituição Psiquiátrica: Meu fim do poço!!

Quanto mais eu me via perdida em sentimentos, mais raiva eu ia criando dentro de mim, eu comecei a ficar com medo dos meus atos, comecei a ficar com medo de cometer alguma violência, por exemplo. Tentava sozinha encontrar algum meio de sair de onde eu havia chegado. Eu não sabia mais como havia chegado até aqui, mas queria mudar, queria sair (de preferência fumando maconha). Mas comecei a perceber de verdade que isso não era possível quando tive minha primeira crise nervosa. Eu vivia irritada, brigando por tudo, brigava com os meus e comigo mesma, eu estava ficando totalmente insana.
Num desses dias tive uma discussão com meu pai, nada demais coisa de família, mais eu senti um ódio tão grande, que não me reconheci comecei a xingar meu pai (imagina, coisa que jamais fiz na minha vida !) e se não tivessem me segurado eu seria capaz de bater no meu pai ( que absurdo isso,  que Deus me perdoe ). Nesse momento eu falei pra minha irmã eu não estou bem, eu preciso de ajuda, eu estou completamente doente; não sabia se era físico, emocional, psicológico, espiritual só sabia que tinha perdido meu controle.
Fui fazer terapia mais uma vez, dolorida, sofrendo e dessa vez falei do meu uso de droga, não a verdade por completo, mas admiti pra outro ser humano (não adicto) que era usuária de drogas, ela me ajudou, foi o começo. Mas eu ainda acreditava que eu era capaz de deixar de usar droga sozinha.
Eu vivia perdida em mim mesma, só eu e mais eu. Cheguei ao ponto de não me agüentar mais, cansada de tanto pensar e pensar e falar sozinha. Criando neuroses, teve uma delas em especifico que me perturbou demais (ainda não gosto de lembrar, na verdade as vezes ainda me perturba, coisa pra divã ), eu comecei a sentir nojo de certas coisas, eu falava pra minha irmã e ela não via lógica, ela tentava me dizer que não tinha nada demais, mas aquela cena ficava na minha cabeça eu não conseguia parar de pensar por mais que tentasse, ficava dias naquela confusão, com aquela imagem e idéia fixa! Pedindo a Deus que tirasse aquele pensamento da minha cabeça, mas não conseguia. Chorava sentia agonia, verdadeiro asco!
Num desses momentos de pensamento fixo, fiquei tão mal, chorando, nervosa, com medo e ódio dessas idéias fixas, que estava de novo numa psiquiatra. Contei ao médico o que estava sentindo, a primeira coisa que fiz quando cheguei no consultório, foi entortar todos os clipes que estavam na mesa . Eu falei “brincando”, doutor to ficando neurótica com esse pensamento fixo, ele me disse: sim, são sintomas de neurose. Não queria ouvir isso, mas era verdade.
A droga havia me destruído. Estava tirando minha sanidade.
Tive mais duas crises de TAG (transtorno de ansiedade generalizado).
Na ultima fui parar de novo no hospital psiquiátrico, me sedaram e dessa vez iam me deixar internada, quando eu acordei e vi aquelas pessoas a minha volta e percebi onde estava, aquela cena que eu via em filmes e que eu ia ficar ali me senti num pesadelo. Gritei a enfermeira e me tira daqui, pelo amor de Deus me tira daqui (e ao mesmo tempo pensava não posso gritar, não posso perder o controle senão eles não me deixam sair mesmo, se controla, se controla).
Implorei que chamassem minha irmã, eu chorava feito criança, falava eu não estou louca eu estou doente, mas louca não, eu não vou ficar aqui!! Falei pra minha irmã se responsabiliza por mim, assina qualquer coisa, mas me tira daqui. Ela me tirou sai no mesmo dia.
Voltei pra casa cheia de “tarja preta”, tomei esses remédios por um mês, falei pro medico não vou ficar tomando isso eu sou adicta eu vou usar isso pro meu mal e não quis me recusei a continuar me entupindo de mais drogas.
Depois desse momento, não dava mais, não dava.
Esse foi meu fundo de poço: instituição psiquiátrica (hospício) esse foi meu inferno completo, ficar louca não. Não mesmo!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Vida vazia, angústia!

Nesses últimos quatro anos de uso de drogas minha vida pode ser resumida em: Angústia: eu, esse ser humano aqui, estava cada vez mais perdida. Não conseguia trabalhar mais, pois além do consumo de droga eu vivia com tonturas, que não eram as tonturas da reação das drogas. Descobri que estava com Sindrome de Menier (uma doença que tem origem no labirinto, que causa muita tontura, enjôo, perda de noção de espaço, zumbido no ouvido e gradativa queda de audição) e com um monte de doenças psicossomáticas acumuladas e mal curadas no decorrer desses anos todos e outras chegando.
Eu não saia mais, só em caso de extrema necessidade, fosse pra levar minha filha ao médico, ir a reunião de escola ou ir ao banco pagar as contas uma vez por mês, ficava apavorada de imaginar que teria que ir pra rua, encontrar pessoas não estar drogada ou até mesmo estar drogada, isso me apavorava, tinha taquicardia, dias antes só em pensar. Veio a fobia social.
Já era previsto, afinal sempre fui a: “eu posso, eu resolvo, eu me viro, eu sei” a falsa auto suficiente, se eu disser que fui fraca seria mentira, mas não era aquela imagem que eu passava (é o pior as pessoas acreditavam que eu era forte) estava sendo hipócrita, como eles não percebiam! Que raiva. As pessoas só enxergam a si mesmas e com pensamentos assim ia me afastando, eu queria ajuda, necessitava, mas não via ninguém como nunca vi que pudesse me ajudar efetivamente, a principio raiva da humanidade, desprezo, medo e fobia. Não queria mais saber de ninguém, dane-se eu mesma me viro! Afinal já passei por tanta coisa sozinha.
Eu estava isolada é uma das coisas que fazemos quando chega ao ponto que eu cheguei: isolamento.
Tinha momentos que eu ficava desesperada dentro de casa eu ia andar, andava sozinha pelo bairro, andava até cansar, não falava com ninguém chegava em casa falava sozinha, falava até cansar, xingava, brigava, Brigava com Deus; eu mesma dizia eu mesma respondia e eu claro sempre tinha razão, comecei a sentir os primeiros sinais de insanidade.
Chorava, xingava, blasfemava, reclamava e se alguém, fosse da minha família ou dos pouquíssimos amigos que me restaram, aparecessem, eu dizia que estava “tudo bem, eu to bem”, mentira eu estava muito triste, um lixo de ser humano.
Bem se eu havia escapado da morte, de prisão porque nunca quis me relacionar com o mundo do crime. Da terceira que era uma instituição psiquiátrica eu estava bem próxima, e cá entre nós se tem algo que sempre me apavorou é a loucura (não a loucura das drogas, convenhamos), não importa em qual de suas tantas formas, mas a idéia de ficar louca me apavorava, muito!
Muitas vezes no decorrer desses anos todo eu tive medo de uma dose a mais me tirar a sanidade, eu tive medo de enlouquecer e nesse momento da minha vida era algo que começava a ficar palpável.
Nós 2 últimos anos de uso, eu comecei pela primeira vez a enxergar que poderia ser a droga que estava me deixando assim, acreditem, somente depois de 24 anos de sofrimento, foi que eu comecei a admitir a possibilidade disso. 
Porque a minha vida era de uma pobreza de espírito sem tamanho, um vazio, um tédio constante, vivia tendo crises de tontura (menier), vivia a base de remédios.
Mas nunca deixei de usar droga. Acordava minha filha para ir à escola pela manha (como ainda faço), esperava ela sair e fumava, dormia mais um pouco, “meu corpo me acordava” eu usava de novo e assim se resumia meus dias, meses, anos, minha vida.
Relacionamentos... tive, afinal sou compulsiva não somente por drogas, mas quando se vive numa vida dessas, não se procura alguém que “presta”, não há sentimento, procura os iguais, e só para usar mesmo! Auto-estima abaixo do pé. Nenhum valor sentimental e o mais triste nenhum sonho. Eu não tinha mais sonhos, não esperava mais nada. Eu não me olhava mais no espelho.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Mais uma vez droga! Substituição foi naquele momento a única saída.

Não é fácil tirar uma droga química do organismo, na verdade droga nenhuma. Ainda mais sozinha!
Eu não podia contar com a ajuda de ninguém da minha família, a não ser minha irmã, mas ela não sabia como lidar com a situação, nem eu sabia. A única coisa que eu sabia era que precisava parar de usar cocaína, da mesma forma que há muitos atrás havia parado com a droga alcoólica e nunca mais bebi nada que contenha álcool, eu precisava agora parar e teria que ser sozinha.
Como um adicto sozinho é sempre má companhia. Fiz a única coisa que estava ao meu alcance a que me pareceu menos mal no momento: substituir uma droga pela outra. A cocaína que era mais forte pela maconha algo mais leve.
Uma semana após a overdose estava em casa e louca, cega de vontade de usar, não conseguia pensar em outra coisa. Meu corpo não deixava, minha cabeça não deixava.

Acordei com crise de abstinência é algo assim: eu era literalmente acordada pelo meu corpo pedindo droga, uma dor em volta do umbigo, que é uma mistura de cólica, dor e ansiedade, é algo estranho, a adrenalina fica acelerada, suor, secura na garganta e ao mesmo tempo boca salivando e não da pra pensar em outra coisa, é como uma contração de minutos em minutos, todos os sintomas de novo e de novo da abstinência e eu precisava de droga ou sentia que morreria no instante seguinte, de tanto tremer!!
Cocaína não dava mais, fiquei mais uma vez com medo. Sai de casa cedo, fui na primeira biqueira (ponto de venda de drogas) que encontrei  e comprei uma paranga (nome dado a porção de maconha), cheguei em casa tremendo me tranquei no banheiro, preparei e fumei, alivio! A dor sumia, o corpo todo agradecia, eu relaxava finalmente. Três horas depois a mesma crise de novo, porque a droga que eu usava era mais forte, e eu fumava de novo. No primeiro mês eu tive abstinência constante. Fumei em torno de umas 6, 8 vezes por dia, até meu organismo se acostumar com a nova droga que se tornou minha amiga inseparável, sempre foi, foi a primeira e também seria a última.
Foi dessa forma insana que eu consegui parar com a cocaína, sozinha. Mas não com as drogas.
Nesse momento eu até me senti melhor porque a reação da maconha ao contrário da cocaína e mais calma, dá sono, fome e nos dois anos seguintes eu fumei sem maiores problemas, com as drogas.
Mas eu, meu corpo, sentimentos e pensamentos continuávamos num conflito só.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Overdose

O meu corpo começou a cansar (o emocional já estava cansado há tempos) e quanto mais eu usava mais eu queria, não tem fim e algo doente, doente! Depois de ter usado mais um dia todo, como era de costume. A noite eu não estava bem a reação da droga estava estranha, eu peguei outra em outro lugar (porque quando eu passava mal achava que era a droga que estava misturada que não era “boa”, não porque não tinha comido quase nada o dia inteiro, ou nem lembrava se tinha tomado algum liquido, ficava tão cega que não conseguia perceber que não importava pureza ou não. É ela quem faz mal!! Mas não enxergava, por Deus não enxergava).
Voltei pra casa e usei dessa outra, me senti “melhor”, mas, não deu cinco minutos e eu comecei a sentir muita tontura, falta de ar e meu coração parecia que ia sair do peito, liguei pra minha irmã. Não to bem, fica comigo, comecei a andar pela casa, tudo rodava, lavei o rosto, tentei beber água fiquei mais sufocada ainda, comecei a perder os sentidos, ela chamou meu irmão e me levaram pro hospital.
Cheguei lá suando e tremendo, sentindo dores horríveis na barriga, pontadas na altura do peito quase sem respirar e perdendo a consciência.
O medico aos gritos comigo: que droga você tomou, o que você tomou menina? Cocaína sou viciada. ele dizia é overdose. E eu não parava de falar: não fala pros meus pais, não fala eles não podem saber; no carro eu falei com meus irmãos, conversa com os médicos, não deixem eles contarem pro pai e pra mãe ... cuida da nenê.
Só por Deus eu não tive uma outra convulsão, não tive parada cardíaca, fui atendida a tempo, fiquei até o dia seguinte.
Foi horrível é uma experiência horrível, é a verdadeira cara das drogas, esse é um dos fundos de poço, esse é um dos finais: a morte.
No dia seguinte quando recobrei a consciência e vi onde estava, onde tinha chegado, pensei que meu propósito em morrer quase tinha sido alcançado. Senti nesse momento uma saudade tão grande da minha filha e pensei meu Deus não posso deixar minha filha sozinha nesse mundo, ela já não tem o pai se ficar sem a mãe como ver ser o que vai ser dela. 
Meus pais não souberam, acharam que eu tinha tido uma convulsão, misturado com todo o quadro de depressão etc,  e ficou assim.

Eu estava com 38 anos. Totalmente perdida na minha vida. Me sentindo absolutamente só.
Sabia que precisava parar de usar cocaína, chorei muito. Mas como? O que eu iria fazer pra parar? O que?

domingo, 21 de novembro de 2010

O outro lado da moeda na reação das drogas

Seis anos após a morte do meu marido, seis anos de vida apática, de mal estar, tonturas, uso abusivo e diário de cocaína e às vezes um baseado pra poder me acalmar.
Se quando eu cheirei ou injetei cocaína pela primeira vez foi “a melhor sensação do mundo”, agora já não era mais. Agora as drogas me mostravam sua verdadeira face.
A reação da cocaína e dividida em três etapas:
Primeira:
- Na primeira meia hora eu ainda conseguia ter energia, falar nem que fosse com as paredes, fazer as coisas, achar que tudo estava bem ( no começo esse bem estar é  mais duradouro).
Segunda:
_O momento do desespero, onde a reação “boa” está acabando e eu queria, precisava cegamente de mais uma dose, se não tivesse ou já não agüentasse mais usar, era o pior momento: eu queria relaxar, mas não conseguia, eu estava muitas vezes cansada, exausta, mas meus olhos não fechavam, eu tentava deitar e “fritava” de um lado pro outro da cama. O coração disparado, a adrenalina a mil por hora, tomava banho, bebia água, tentava comer algo (coisas que esquecia completamente quanto estava chapada), pra tentar me acalmar (no começo isso não existe, se existe é muito leve).
Terceira:
_ Quando conseguia relaxar, vinha a depressão, eu sentia ódio de mais uma vez ter passado por isso e comecei a jurar pra mim mesma que iria ao menos diminuir, chorava e via que estava me afundando, mas não via saída, dormia não sem antes fumar maconha, porque sono natural já tinha há muito tempo.

 E no dia seguinte o inferno de novo: ser literalmente acordado pelo próprio organismo, “gritando” por droga era questão de 10 minutos no máximo pra eu ter esquecido todo esse processo e começar tudo de novo, mesmo chorando, mesmo tendo prometido pra mim mesma que nesse dia não usaria, a compulsão é tanta que esquecia tudo.
E assim que a doença funciona, não pense que controlamos ou até mesmo que não queremos, simplesmente não conseguimos. Não nesse momento, não antes do fim do poço.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Como ninguém percebeu que eu estava totalmente afundada nas drogas

Bem se antes sem nenhum motivo aceitável eu já conseguia esconder (lembrando que antes meu uso também era mais controlado, eu ainda trabalhava, por ex., ou estava casada), agora eu não tinha mais controle sobre o uso de drogas, eu acordava usando e dormia usando. Como fazer pra família não perceber? Foi mais fácil ainda, eu estava visivelmente destruída pela perda do meu marido, isso era fato, mas também passou a ser uma boa desculpa para meu comportamento e magreza, junto com a depressão e o pânico, evitava que eu tivesse que dar explicações do porque não saia, do porque às vezes precisa andar feito uma louca sem rumo e voltar pra casa, mais estranha e mais acabada do que quanto tinha saído. Usava todas as desculpas, eu sabia quais eram as minhas dores e em quais “gavetas” elas cabiam, mas os outros não precisavam saber. Eu passava a noite acordada e acordava 3, 4 horas da tarde, o porque eu parei por completo de ir a casa de qualquer parente e quando alguém chegava em casa eu logo inventava uma desculpa e não queria ver ninguém, qualquer coisa menos...menos culpar as drogas, sem elas eu não ficaria.
Minha filha era ainda uma criança, nem imagina o quanto eu sofria.
A minha irmã: ela foi minha única aliada nesses anos todos, ela sempre soube e acompanhou toda a minha verdade e por muitas vezes tentou me tirar das drogas, mas quando eu percebi que ela queria mesmo fazer isso eu a “convenci” que sem as drogas eu não ficava, ela percebia o quanto eu ficava aliviada quando eu usavam eu até ria!.( mas ela não gostava de ver drogada, é isso também me incomodava).
Mas foi dessa forma mesquinha de manipular de um adicto que eu a tive ao meu lado, passou a ser minha cúmplice, convencida por mim que assim eu ficava melhor e no mais eu era adulta era ainda responsável por minhas contas e tá... a vida seguia.

Anestesiar a vida com as drogas

Quando a dor pela morte foi absurda, eu aprendi que eu podia amenizar usando droga e passei a usar isso pra tudo, qualquer situação que me acontecesse e eu não tivesse habilidade pra lidar eu fugia pras drogas, esquecia, anulava. Fosse decepção com homens, com quem sabe um trabalho, com o que eu queria e não conseguia, qualquer coisa que não fosse como eu queria.
Eu criei dentro de mim um mecanismo de fuga, de forma tão eficaz que eu comecei a esquecer de tudo, tanto do bem quanto do mal, quando algo me incomodava eu ignorava, usava droga e esquecia (pra quem já tinha tido perda de memória, ficou mais fácil ainda).
Hoje ainda sofro com isso, na verdade muito porque não consigo memorizar quase nada, tenho dificuldade não para entender ou aprender, mas para lembrar de coisas simples, esse mecanismo está sempre ativo me dizendo “vem aqui é mais cômodo”, um psicólogo pode explicar isso melhor... Mas luto pra aprender e memorizar algo novo.
E luto mais ainda pra encara a vida como ela é sem fugir, sem aparecem problemas os encaro e tento resolver só assim sei que haverá um crescimento pessoal, mas pra mim é algo muito difícil, simplesmente ser normal.
O mais importante disso: eu já entendi que a dificuldade está no medo de encarar a realidade, de crescer ( vou falar disso mais adiante).

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

E agora?

O que eu iria fazer uma criança pra criar, uma casa pra cuidar com todas as responsabilidades que isso implica, eu uma total dependente de drogas, sentindo a pior das dores emocionais, me sentindo mais sozinha do que nunca em toda minha vida. Percebendo que minha saúde estava debilitada.
Meu físico, emocional e espiritual destruídos.
Os amigos aos poucos se afastaram, maioria casados cuidando de suas próprias vidas. Existe a lei da troca no mundo, se você procura é procurado senão fica só, eu não sentia mais a menor vontade de ir a lugar algum.
O que me passava na cabeça após a morte do meu marido era: eu já fiz de tudo, sei de tudo, conheço tudo, estudei, trabalhei, viajei, convivi com pessoas loucas e normais, os loucos pouco se importam com minha decadência, os normais não sabem de nada, sai com os homens que quis, realizei fantasias, sou mãe, fui a diversas religiões, li muitos livros, vivi nos dois mundos, e nada absolutamente nada me atraia, a vida daqui pra frente não vai ser novidade, só uma eterna repetição do que já fiz! Era exatamente assim que pensava, nada tem mais graça, beleza, acabou.
Eu até tentei não voltar pra drogas, mas eu odiava o mundo a vida como ela é. Eu não entendia mais como se vive sem drogas. Eu não sabia viver sem drogas.
Pensava, bem...vou viver “no automático”, continuo usando drogas, e no mais seja o que Deus quiser.
Eu muito raramente saia, é quando saia não gostava, não me identificava com nada, comecei aos poucos a me isolar “um não vou hoje, outro amanha” e foi tomando proporção. Numa postagem atrás eu disse que a minha opção de isolamento estava começando e nesse momento da vida ela foi se concretizando.
Minha filha crescendo, eu me isolando, saia somente por ela, por ela ainda tentava alguma coisa, ia a parques, levava pra passear, ela precisava ter uma vida normal, ria por ela, brincava por ela. Mas era assim eu sai por no máximo 2, 3 horas era o tempo que eu conseguia ficar sem droga. Depois disso já começa a passar a mal, tinha que usar (e não saia drogada tinha medo de deixar algo acontecer a ela).
Nesse momento o controle que eu mantive por tantos anos foi por água a baixo, a droga era quem mandava agora, e eu não me importava afinal eu não sabia viver de outra forma.
Eu não conseguia (mal consigo até hoje) lembrar como eu era antes de usar droga, não sei... essa pessoa se perdeu no passado.
Se eu já tinha tendência à depressão nesse momento ela ficou mais evidente. Se eu já tinha tendência à doença da adicção, desse momento em diante ela tomou conta por completo.
Houve momentos que eu não suportava mais procurar respostas e não via nenhum amigo, nem um ser que fosse um pouco mais complexo e vivido do que eu, que pudesse me ajudar, fui fazer terapia, mas eu não falei que usava drogas, ou seja, não ajudou em nada (isso é muito importante: eu acreditava que minha vida tinha se tornado um pesadelo por todos os acontecimentos pessoais, mas jamais culpar as drogas, elas não, elas são minha vida, como eu poderia dizer pra alguém que usava e essa pessoa dizer pra eu parar de usar, a escolha? Mandar a pessoa sumir da minha vida, ficava com as drogas).
Havia no meu caso um relacionamento afetivo com as drogas, é ate absurdo isso, mas é verdade, no decorrer desses anos todos, só vivi dessa forma, a droga me acalmava me fazia esquecer, me relaxava, era terreno que pisava e conhecia, nesse mundo eu entendia tudo, nesse mundo eu sabia viver. Mesmo consciente que eu estava viciada, não tinha a consciência de algo pior, ou melhor, tinha sim, afinal depois que meu marido morreu, eu queria morrer e esse caminho era lento, mas eu sabia que mais cedo ou mais tarde eu iria sair desse mundo Mas era a minha dor pela morte falando mais alto.
Mas não conseguimos enxergar que é cadeia, instituição ou morte o final do caminho de quem usa droga. Ainda existia a ilusão de que comigo não!

(Desse momento em diante, até eu parar de usar droga, são anos de muita confusão emocional, anos que  somente eu senti de forma muito intensa, mas de um vazio tão absurdo que olhando pra trás só consigo ver páginas em branco).

sábado, 6 de novembro de 2010

Arrancaram minha metade!

Estávamos a um mês limpos, felizes, cheios de planos, tínhamos conseguido! Eu principalmente tinha conseguido ficar sem droga, era uma vitória pessoal, não sabia como iria encarar o mundo, mas meu marido estava comigo e acima de tudo a nenê, então valia a pena tentar.
Planejamos um acampamento, desde que eu havia ficado grávida, praticamente não tínhamos mais saído de casa, estava na hora de voltar à vida e dessa vez iríamos levar nossa filha.
Era uma terça feira 09 de janeiro. Eu fui ao medico com a nenê, pra ver que cuidados eu precisa ter com ela (repelente, alimentação, toda prevenção necessária pra se levar uma criança pra acampar).
Quando voltei pra casa, senti algo estranho, o dia na verdade estava estranhamente calmo. Abri o portão, meu irmão veio pegar a nenê do meu colo, eu perguntei o que foi ele não disse nada, na frente estava minha irmã, meu cunhado e o Eri me esperando, eu perguntei o que foi, o que aconteceu, aconteceu alguma coisa com o meu pai? ( meu pai não andava bem de saúde por aqueles dias) e minha irmã me falou: Foi teu marido.
O que houve com ele?... Ele morreu! Como assim... é brincadeira é mentira, é mentira e desmaiei, voltei minutos depois, meu cunhado me pondo no sofá e no primeiro instante nem chorar conseguia, quis saber o que tinha acontecido. Disseram que foi acidente de moto na marginal, extremamente violento ( não consigo descrever os detalhes, dói demais isso). O caixão dele estava lacrado. Ele tinha 30 anos, saudável, lindo, uma das raras pessoas que conheci, que convivi, que amava a vida, como eu até hoje não consegui amar.
Meu mundo acabou nesse momento, nós não éramos um simples casal, nos éramos o casal!. Nos amávamos de verdade. Perdi meu marido, amigo, companheiro, pai, filho, perdi pra morte, acabou.
Passei um ano na casa dos meus pais, não conseguia voltar pra minha casa, voltei pra desmontar moveis, queria mudar tudo.
Enlouquecia gritando, chorando me batendo, que dor absurda a de se perder quem se ama pra morte, dor maldita.
Não me importava mais com nada, já não tinha mundo que me coubesse, nem nas drogas, nem o normal, foi muito doentio esse momento na minha cabeça, na minha dor, na minha vida.
Nem minha filha me importava eu não me importava com nada, só queria morrer e mais nada.

Um ano depois comecei aos poucos a reagir, não conseguia trabalhar, comecei a receber pensão do meu marido ainda bem, eu não sabia mais o que fazer com  a falta de dinheiro. Eu tinha uma filha pra criar e toda uma casa pra sustentar, estava de volta à minha casa, só eu e minha nenê, com toda a dor do mundo. Mais apegada a Deus a minha fé, do que nunca na minha vida (foi minha fé, independente de religião que me fez recomeçar depois desse maldito acontecimento).
Mas nada mais me alegrava, saia com minha irmã e amigos delas, mas não via graça em nada, voltei a me relacionar e foi horrível, sentir outro corpo, porque não era aquele que eu queria. Nada estava bom, nada prestava, nada!
O choque foi tamanho, que aquela tontura que eu vinha sentindo há anos, se instalou de vez, me tornei doente, nem sabia o que tinha mas estava doente, física, emocional e espiritualmente. A idéia de morrer não saia da minha cabeça e qual o caminho que eu conhecia?.. Das drogas, voltei a usar pra literalmente morrer, voltei a injetar, voltei a cheirar, às vezes fumava maconha, porque era também uma forma de tentar amenizar a dor. Queria sumir desse maldito mundo, não pensava em outra coisa. Nem na minha filha, minha família nesse momento foi fundamental, cuidaram, não somente dela como de mim também.

Nossa!, vocês tem idéia de como foi difícil escrever isso, eu queria dar mais detalhes, mas eu não consigo.Vai fazer 12 anos que meu marido morreu e eu o amo, sempre amei e sempre vou amar. Nem é luto, é amor. Fiz terapia, estive em religiões, conversei com pessoas que havaim passado por essa experiência pra tentar aceitar essa dor e entender esse sentimento que esta além da morte.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Voltando às drogas

Quando minha filha estava com exatos 3 anos achei  “que já estava na hora de parar de amamentar...rs” ela me sugou por completo ( mas não tem prazer melhor que dar de mama a um filho, é sublime!), estava muito magra novamente, desmamentei e aguardei exatamente uma semana pra ver se ela não ficaria doente pela falta do amamentação, chorei mais que ela, sofri mais que ela ( sou sensível ao extremo em conseqüência chorona..rs).
Tudo bem, ela estava ótima, graças a Deus.
Era hora de voltar ao meu mundo, porque não agüentava mais viver nesse mundo que não conhecia e não gostava.
Eu e meu marido saímos de moto e  fomos fumar maconha com haxixe ( o néctar da maconha). Chapei por completo, ri das árvores, que saudade de sentir aquela sensação, como era bom estar de volta ( é exatamente assim que pensamos, é assim que sentimos, antes de chegar ao fundo do poço, eu ainda não conhecia o fundo, vi conhecer anos depois).
Nos 3 meses seguintes, voltei a cheirar, muito, muito. Um amigo do meu marido (vou chamá-lo de Eri) , que se tornou meu também, fazia parte de nossas vidas, estávamos sempre juntos, usando juntos, em casa ( eu sempre atenta com a nenê, não descuidei dela, na verdade vivia me vigiando, me policiando, ela estava bem, nunca deixei minha filha sem comida, sem banho, nada, fui mãe acima de tudo). Mas eu decai nas drogas, alguns amigos e até mesmo minha família começou a perceber que eu estava muito magra, eu como manipuladora que aprendi a ser , arrumei desculpas, todo mundo acreditou. Mas eu não estava bem, porque se voltei a usar só na sexta, depois foi sexta e sábado e em seguida estava usando a semana inteira, e piorando porque meu marido ia trabalhar e eu comecei a usar durante o dia, escondido dele.
Eu já não trabalhava mais, fazia 4 anos, havia saído da empresa um mês antes da ficar grávida e como decidi ser mãe em tempo integral, estava sem trabalho. Dona de casa, mãe e adicta mais que na ativa.
Três meses depois de ter retornado as drogas, vi que não dava, eu precisava parar, nós precisávamos, pois, tínhamos uma casa pra sustentar e acima de tudo uma nenê, não dava pra ficar gastando com droga.
E eu pela primeira vez senti vontade de parar. Não era uma vontade convicta, mas já era alguma.
Paramos. Isso foi no começo de janeiro de 99 ( eu estava com 32 anos). Passamos mal juntos, eu mais que meu marido, porque sempre usei mais que ele, e também porque já não tinha a mesma saúde que tive um dia a convulsão tinha me “detonado” fisicamente e acima de tudo psicologicamente.
Hoje: Quando um dependente químico tem uma recaída é a pior coisa, porque nós não recomeçamos, nós continuamos. A doença é latente, só fica à espera do primeiro gole, primeiro trago... e quando isso acontece voltamos exatamente onde estávamos, mais vorazes que nunca, como sempre digo estamos no ponto onde “uma é pouco e mil não bastam”.

domingo, 31 de outubro de 2010

O melhor presente da minha vida: a minha filha!!

Nós últimos meses estava me sentindo melhor, ao menos já me acostumara com o gardenal, me senti confiante em usar droga e não convulsionar, não bebia mais (porque isso eu disse ao médico  e ele me proibiu, o medo foi maior e eu parei, não queria passar por aquele pesadelo novamente), mas estava usando cocaína como nunca, completamente dependente.
No dia 27 de janeiro de 95, foi o show! Rolling Stones no Brasil foi a primeira vez que eles vieram ao Brasil, lógico que eu estava lá, com o meu marido, irmãos, a Suzi o Fuca e a grande maioria dos amigos do Bar, foi uma noite especial, com muita chuva umas 4, 5 horas de chuva ininterruptas, mas que delícia! Claro, maconha e cocaína não faltaram.
Não havia usado muita droga naqueles dias, mas nesse dia em especial usei bastante. E o show foi soberbo!
Lembro que comentei com uma amiga, “minha menstruação esta atrasada” ela me disse se depois dessa chuva toda não vir, você esta grávida. Isso durante o show.
Uma semana depois eu estava fazendo exames e... foi confirmado eu estava grávida!!!
A primeira reação foi de muita alegria, eu estava com 28 anos, ia ser mãe. A benção de Deus, ser mãe!! E meu primeiro pensamento foi: o que vou fazer com as drogas?!  Será que fiz mal pra nenê?!
O meu marido, família toda deliraram com a idéia, há tantos anos não havia nenê em casa e seria a primeira neta.
Primeira atitude minha ao chegar em casa, me ajoelhar e pedir pra Deus, me dar forças pra parar de usar drogas. Eu não ia dar droga para minha nenê, tive as primeiras crises de abstinência na gravidez, mas fui forte, não pensava em outra coisa a  não ser na criança que estava dentro de mim.
Eu podia ser irresponsável comigo, mas não com um anjinho que não tinha culpa de nada e com isso mereci o troféu de mãe do ano..rs, pois, parei de usar drogas, não somente na gravidez, como (pasmem) nos 3 anos seguintes que amamentei minha filha.
Mudei minha alimentação na gravidez, me enchi de vitaminas naturais (frutas, verduras, legumes), ganhei peso necessário (vivia sempre abaixo do peso), mas não escapei de uma anemia, e toma suco de beterraba com laranja. Tudo ok nos exames, meu marido: o melhor do mundo acordava todos os dias 1 hora mais cedo pra preparar minha alimentação e depois ir trabalhar. E assim correu quase que tubo bem, fora o medo que eu sentia de: como vou criar minha filha, usando droga, depressiva... o medo falando mais alto.
Nem por um minuto sequer eu achei que não usaria droga novamente. Eu me controlei, me contive por causa da minha filha, mas não por mim eu tinha certeza que voltaria usar drogas, afinal eu não conhecia outro modo de vida, outra vida que não fosse com drogas, há muitos anos eu era da droga e a droga era minha.

Minha filha nasceu com 3.020kg medindo 49 cm, gorda, saudável, tão corada que parecia uma maçã, muito cabeluda, linda, linda e eu agradeci a Deus por nada ter acontecido com ela. Ela é perfeita. Amém.
Ela é minha vida é a razão de hoje eu estar aqui limpa e escrevendo minha história.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Comecei a me sentir estranha no meu próprio ninho

Voltei a usar droga, uma vez por semana, duas, no começo com receio de ter convulsão novamente, mas a droga me cegava tanto que eu achava que a controlava, apesar de nesse momento depois do que houve e o fato de sentir uma vontade absurda de usar eu comecei a admitir que estivesse viciada.
Porque nesses anos todos, nunca admiti, dizia coisas do tipo: “Eu viciar:? Imagina isso é coisa pra gente fraca” “Comigo não acontece” “Eu controlo as drogas não ela a mim” “Quando eu quiser eu paro”.  Quanto auto-engano!!.
Mas nessa fase eu comecei a perceber que estava perdendo o controle.
Não lembro de muitos acontecimentos dessa fase apenas da tristeza e confusão que tomou conta da minha vida. Estava com depressão, vivia chorando, achando tudo feio, horrível, ninguém me compreendia, nem meu marido me interessava, nada interessa a vida perderá a graça e eu comecei a pedir pra morrer.

A depressão e o pânico foi um capitulo a parte porque isso aconteceu em 93/94, momento esse, que essa doença não era conhecida como é hoje. Tinha ido a diversos médicos, e dizia o que sentia: taquicardia, falta de ar, dormia demais, chorava o tempo todo, pressão no peito, dormência nas mãos e tantos outros sintomas físicos, mas o que mais me perturbava era que eu tinha certeza que estava enlouquecendo. Nem um médico que eu passei na época foi capaz de diagnosticar o que eu tinha. Um dia eu assistindo uma reportagem, me identifiquei com os sintomas com as doenças, fui ao medico com o diagnostico pronto, foi confirmado. Era a maldita depressão e a síndrome de pânico. Tomei por alguns meses uns tarjas preta, não quis tomar mais, parei, porque eu sabia muito bem como usar essa droga para o “mal” no meu organismo, não a sentia como remédio é sim como mais uma de minhas drogas e já bastava o gardenal que eu tomava que me deixava completamente grogue. Cismei que se eu não conseguisse sair desse quadro sozinha ninguém poderia me ajudar (como sempre eu sendo a auto-suficiente, eu me escondendo do mundo e querendo resolver tudo do meu jeito). De certa forma eu tinha razão depende sim do querer pessoal, mas naquele momento uma ajuda poderia ser bem vinda, mas não era só o meu querer, também não encontrei nada convincente como tratamento medico. E por outro lado a maior das preocupações: se eu disser que uso drogas os médicos vão dizer que é tudo culpa da droga e eu não vou parar!
Mesmo assim tentei reagir, tudo estava bem no meu casamento, meu marido, foi tudo que uma mulher pode querer, ficou comigo em todos os momentos afinal era na “saúde e na doença”, então ta.
Ele sempre tentando me alegrar, me tirar no casulo, voltar pro mundo, eu querendo ficar em casa, mas saia ás vezes.

O Bar tinha sido fechado, vitória da policia, nossa opção ou era salão de rock ou encontros na casa de casais amigos, drogados claro, nessa casa aconteceram loucuras, éramos a turma do Bar, agora mais adultos, a grande maioria comprometida, trabalhando, estudando, mas loucos ainda, se o consumo de variedades de droga não era tanto como um dia foi, havia ainda cocaína, maconha e álcool.

Sentia tontura, usava mais droga porque achava que era falta dela e  desse jeito aos trancos e barrancos, achando que eu era capaz de resolver tudo sozinha fui levando.

Eu ia à casa desses amigos mais sempre me sentia isolada, diferente, “porque mesmo eles estão rindo disso? qual a graça mesmo? “que merda, não queria estar aqui, queria estar na minha casa”.
Detalhe: ninguém percebia, nunca ninguém chegou em mim é disse: " vc esta bem, estou achando você diferente? Não! Cada um preocupado consigo mesmo, não era proposital, afinal era espaço pra alegria e não pro meu mundo depressivo. E eu tambem não fazia a menor questão de dizer o que me acontecia. Afinal nunca gostei que soubessem da minha vida e assim fui criando aos poucos meu isolamento emocional. Como tudo tem um preço, essa atitude de isolamento tomou caminhos nada felizes.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Convulsão

Já fazia quatro meses que eu sentia dor de cabeça consecutiva, havia tomado diversos remédios, ido em vários médicos e ouvido diagnósticos diferentes, alguns exames e nada de anormal, mas a dor persistia, podia ser enxaqueca, podia ser sinusite, podia isso ou aquilo e a dor constante.
Uma semana antes do natal (isso em 1993.) cheguei em casa após o trabalho (nesse dia não usei estava cansada) e estavam pintando a casa, assim mesmo me dispus a ajudar naquela bagunça básica que fica. E a dor de cabeça absurda me incomodava, mas depois de tantos meses, já quase havia me acostumado. Eu e meu marido já estávamos juntos, mas não era toda noite que dividíamos a mesma cama, nessa noite em especifico eu dormi com a minha irmã.
De madrugada fui acordada com um cheiro forte de álcool, meus pais, irmãos, ao meu redor, me trocando de roupa, perguntando se eu estava bem. Eu não entendia nada; como alguém que ainda está dormindo, como se fosse um sonho, sentia apenas sono, disseram que iam me levar ao médico, e foi feito. Eu fui no carro tentando dormir e eles me acordando. Chegamos ao hospital fui pra sala do médico eles conversaram com minha família, fui colocada numa maca e me aplicaram uma injeção. Só nesse momento eu voltei à consciência e perguntei o que tinha acontecido comigo, o medico me disse que eu tinha tido uma convulsão. Meu mundo nesse momento caiu, (eu estava dormindo, só não morri porque minha irmã acordou com a cena no mínimo esquisita que é ver alguém convulsionando).
Inferno decretado na minha vida à partir desse momento. O médico perguntou se eu bebia disse que sim, ele me proibiu de beber disse que eu bebesse iria convulsionar novamente, perguntou se eu usava drogas eu disse que não! .
Alguns exames foram feitos e eu comecei a tomar o famoso gardenal ( que não é remédio pra loucura, é sim exclusivamente pra epiléticos), não conseguia me adaptar ao remédio, depois de dois meses foi que comecei a deixar de dormir o dia inteiro. Me deram licença do trabalho. Eu parecia um vegetal!
As seqüelas dessa maldita convulsão:
_ Tive perda de memória, esqueci meu passado quase todo. (hoje recuperei eu diria 70% por cento). Muito do que escrevo aqui, datas, por exemplo, devo aos meus diários.
_ Aquela tristeza que me acompanhava há alguns meses se transformou em depressão e pânico (vou falar sobre isso)
_ Fiquei afastada do trabalho, não conseguia mais fazer o serviço que há anos fazia, simplesmente esqueci e não conseguia aprender novamente.
_ Nos exames que fiz (tomografia, ressonância etc,) nunca apareceu o motivo.

Os anos seguintes foram de  grande sofrimento pessoal, porque eu não aceitava de maneira alguma a convulsão ( não aceito até hoje, aprendi a conviver com esse momento, mas não imaginam o quanto está difícil falar sobre isso).

Essa foi a primeira conseqüência grave do uso de droga, hoje eu sei admito que foram as drogas, mas na época sobre hipótese alguma admitiria.

Quando me senti um pouco melhor, voltei a usar drogas.

domingo, 24 de outubro de 2010

No melhor momento, começa o sofrimento

Com 25 anos comecei a namorar seriamente o homem que viria a ser o meu marido. Me casei oficialmente dois anos depois, mas desde o primeiro momento, já estávamos juntos, já me sentia casada, totalmente apaixonada, amando o homem da minha vida e dos meus sonhos. Casei como manda o figurino: civil, igreja, véu e grinalda, boa parte dos amigos do Bar estavam na festa. Momento único. Eu como boa rebelde que sempre fui, não fazia a menor questão de igreja, mas meus pais não aceitariam de outra forma, então ta. Mas não pensem que foi a experiência mais linda que já tive, na verdade até achei um saco o processo todo..rs. Mas o que importava era estar com ele.
Ele usava drogas também, afinal nós conhecíamos do Bar. Mas ele tinha um limite maior que o meu sempre teve, quando nós saiamos pra cheirar, depois de uns 3, 4 “papeis” ele parava, eu não, queria pelo menos mais uns dois ou três, ou...
Éramos felizes mesmo com as drogas, soubemos manter uma casa, pagar as contas. Nós dois trabalhávamos. Ele um homem extremamente ativo, em todos os sentidos, com uma alegria que raramente encontrei em outras pessoas, eu mais quieta, nós completávamos.
Desse momento em diante eu estava em outra empresa e o meu consumo de droga se resumia a cocaína, só fumava maconha quando estava “estraquinada” demais e precisa relaxar, ou bebia, o meu consumo de álcool  sempre foi em excesso, tudo em excesso!
Nós 2 anos seguintes, viajamos por muitas cidades, outros estados em cima de uma moto nos aventuramos. Se felicidade existia, traduzia-se em nós dois. O amava cada dia mais e ele a mim, não tenho duvida quanto a isso.

Nessa mesma época mesmo feliz, mesmo com tudo bem, fora o uso de droga, eu comecei a ficar triste, uma tristeza do nada que eu não entendi o porquê, para espantar ela, eu fazia o que mais sabia: usar droga, não adiantava. Tentei reagir e em momentos conseguia, mas era uma tristeza que eu não tinha controle, porque “não tinha motivo”. E isso foi se arrastando, dois anos depois eu com 27 anos (vendo no diário foi no mês de agosto) comecei a sentir dor de cabeça, eu continuava triste, essa dor de cabeça persistiu por meses, fui á muitos médicos, tomei diversos remédios, diminui a quantidade de drogas e nada da dor passar era uma dor constante dia e noite.
Quatro meses depois tive uma convulsão.
Aqui começa o real tamanho da droga.

Crack, Cocaína injetável, LSD

O crack nem tinha aparecido em São Paulo e nós já tínhamos aprendido como fazer usando cocaína e outras substâncias, foi a primeira vez. Usei crack por mais 4 vezes em momentos distintos da minha vida, e na última vez que usei, eu disse não quero essa droga, e nem foi por questão de consciência que o crack é a droga mais devastadora que eu já conheci, foi porque eu achei muito trabalhoso, muita sujeira muita cinza de cigarro e acima de tudo porque a reação não durava mais que 5 minutos e uma fissura absurda tomava conta logo em seguida. Todos os usuários, de qualquer droga sofrem quando o vicio toma contas, mas o usuario de crack e tomado por "cegueira" total. Decidi que essa droga eu não ia usar e graças a Deus não usei, hoje vejo como vivem os dependentes de crack e agradeço mil vezes!.

Tomei por muito tempo cocaína injetável (baque, era chamado assim). Eu e a Lua num belo dia com um monte de cocaína na mão, mas cansada de ficar cheirando, tivemos a brilhante idéia de tomar baque, fomos à farmácia, compramos seringas (grinfa, esse era o nome) e voltamos pra casa dela. Colher, liquido pra diluir, grinfa cheia, garrote no braço, e o baque aconteceu. A coisa é tão louca, que eu tive a sensação de ter sido jogada pra trás, numa velocidade muito rápida, um bem estar, uma energia, que poucas vezes senti usando qualquer outra droga em qualquer forma.
Só parei de usar baque porque isso me obrigava a viver de manga comprida, eu não podia, afinal eu tinha que manter a aparência. Mas isso muitos anos depois quando meus braços estavam todos feridos sem um lugar sequer pra uma picada, tanto que tenho cicatriz até hoje.
Hoje: Me diz, isso não era completa insanidade! Podíamos errar uma artéria, podia tudo de mal acontecer, mais uma vez tive sorte, em não pegar aids porque sempre tive o cuidado de tomar com grinfa minha, nunca troquei com ninguém, mas não escapei de uma anemia, doença comum aos viciados.

Minha experiência com LSD. Se tem uma droga que na época eu dizia pra todos, não toma isso! Essa “viagem” é uma “roubada”, foi o Lsd. Perde-se completamente o controle, eu queira voltar pra realidade e não conseguia, passei três dias na casa de uma amiga, andando por lugares que não faço idéia. Tudo começou no Bar, quando uns “gringos” apareceram com uma cartela (parecia uma folha de papel sulfite) cheia de pequenos quadradinhos e eu ganhei um desses quadradinhos e foi uma das viagens mais estranhas da minha vida. Fiquei com muito medo de nunca mais voltar, não quero falar muito disso. Pesadelo!

Estou falando disso porque só assim posso ter explicação pro que veio depois.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Cocaína

A primeira vez que experimentei cocaína não foi na rua, não fui atrás.
Era um dia de domingo, meus pais haviam saído eu estava sozinha em casa arrumando meu quarto, quando um garoto do bairro, do tipo “bem comportado” me chamou, esse “bom menino” meus país não se importavam que viessem em casa. Ele entrou e minutos depois me perguntou: Você já experimentou cocaína? Eu : não, nunca. Ele: eu tenho aqui. Eu: o que precisa? Esse espelho aqui mesmo serve.
Não era muita coisa ele fez duas carreiras pra cada me explicou como fazia, cheirou primeiro e eu em seguida. Meu! O que foi aquilo! Nenhuma das drogas que eu havia usado até então tinha me causado aquela sensação , era algo totalmente diferente da maconha. Me deu uma sensação de liberdade, de alegria, de euforia eu queria andar eu precisa andar e foi o que fiz, andei pelo bairro, sentindo aquela coisa louca, o coração a mil por hora, um tempo depois, não muito, me bateu uma agonia, um certo mal estar que logo passou e em seguida uma certa tristeza, mas muito leve essas sensações desagradáveis. A euforia, energia foi muito, muito melhor. ( Com o uso contante essas sensações invertem, vou explicar depois).
Estava com 18 anos e naquele momento eu pensei, vou ficar longe de cocaína porque isso é muito bom!. E durante anos eu consegui fazer isso, só usava em “ocasiões especiais”, muito raramente usava, até então.
E foi ela que me levou pro inferno anos depois.

Mão na cabeça é a polícia!

Num domingo à tarde começo de noite estávamos na casa de um dos hippies que morava em Santo Amaro num quarto alugado, estávamos em 16 adolescentes, o mais velho tinha 21 (era o dono da casa "goma” ). O restante entre 16 e 19 anos. A casa estava densa de tanta fumaça de maconha, copos cheios de bebidas e anfetaminas, estávamos nos drogando, cantando fazendo artesanato pra expor no dia seguinte.
De repente, um chute na porta. Entraram muitos policiais, e foi aquela história mão na cabeça, todo mundo em pé na parede, e grito daqui e dali. E a conclusão deles, isso aqui é corrupção de menores, vai todo mundo pra delegacia!. Eu gelada dos pés a cabeça pensando, me fudi, vão chamar meus pais!. Colocaram todos no camburão, andei no famoso chiqueirinho e fomos pra delegacia, claro que antes eles fizeram questão de bater em nós, eu levei um tapa na cara que dói até hoje, ficou a dor na memória. Noite inteira na delegacia, muitas perguntas, muita pressão psicológica, que iriam nos prendem, que iriam chamar nossos pais. Mas não houve nada disso, 7 horas da manha eles nos liberaram , inventei mais uma mentira do porque havia passado a noite na rua e ficou por isso mesmo.
Por mais 2 vezes fui pega pela polícia, sempre me santo amaro.Numa delas estava eu e mais 4 caras do bar fumando numa praça “belos e folgados”, quando uma viatura passou nós dispensamos o fragrante, eles deram um cavalo de pau, voltaram e de novo a casa caiu, delegacia mão na cabeça, revistaram os caras, não a mim porque não tinha policial feminina e delegacia novamente, mais uma noite de perguntas, caras feias, xingamentos e muita pressão psicológica. De novo pela manha nos liberam.
E na 3 vez foram todos que estavam no Bar, todos que por ali passavam percebiam o nosso consumo de droga, e é claro a policia queria fechar o estabelecimento. Num dia daqueles deve ter chegado uns 10 camburões e levaram todos, olha que nós éramos uma turma. Sabe essas batidas policias que vemos na televisão, onde ficam muitas pessoas de cara pra parede, todos sendo revistados, policiais, armados, ameaças. Eu estava nesse meio. E mais uma vez delegacia, eles fizeram muitas viagens pra levar todos, e (absurdo isso que vou dizer) foi até divertido, porque estávamos todos juntos, até o Hino Nacional o pessoal resolveu cantar dentro da delegacia. O delegado disse que se não calássemos a boca iria isso e aquilo, e mais conversa. E mais uma vez a noite toda lá. Passei a sentir ódio de polícia na época.
Hoje:  A “cegueira“ de um usuário onde todos estavam errados menos eu, mas vamos admitir a sociedade se hoje engatinha tentando nos ajudar, na época era à base de repressão, nunca funcionou ou contrário, ficava ainda mais revoltada e usava mais, só que ainda mais atenta.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Muita coisa à contar

Dos 19 aos 24 anos, muitas coisas aconteceram na minha vida. Não parei de usar droga e experimentei as mais "pesadas". No campo pessoal tenho muita coisa a dizer, mas como o propósito dessa página e destacar o uso de droga vou citar momentos( se alguém tiver interesse em saber detalhes eu respondo).
__Aos 21 anos me apaixonei, conheci o que é a loucura da paixão, como meus sentimentos sempre foram intensos, foi uma experiencia que jamais vou esquecer. O cara não usava droga ilicita, so a lícita : bebida, o cara era meu encarregado ( não sei como se chama essa função hoje).
__Acampei por anos seguidos, ao menos 2 vezes por ano, conheci lugares lindos, tenho sorrisos na memória até hoje (claro que nos acampamentos levava barra de maconha prensada, podia até faltar cigarro, mas maconha não e muita muita bebida)
__Conheci um pessoal hippie e aprendi a fazer algum artesado com linhas (arte linear), até expus algum tempo, mas nada que me interessava como estilo de vida os hippies vivem num mundo à parte.
__Fiquei nessa empresa 4 anos, logo que sai arrumei serviço num banco, no qual fiquei mais 2 anos.
__Deixei o pessoal hippie e comecei a andar com o pessoal heavy metal, usava aquele visual todo preto.
__Muito salão de rock (Fofinho e Led Slay), nesses salões era uma loucura completa, nós fazíamos coquetel de bebidas, não éramos "quase" de ninguém. Eu virava a noite entre cheirar cocaína e beber e por ultimo fumar um baseado pra "relaxar" e voltar pra casa com o dia amanhecendo (claro eu estava, para os meus pais, em qualquer outro lugar). Na verdade eles nunca souberam de verdade onde andei minha vida toda.
__Shows de rock, assisti a milhares, bandas nacionais, internacionais. Que momento gostoso da minha história.
__No bar eu tive a família que me compreendia.
__No Bar eu conheci o homem que viria a ser meu marido. Vou falar mais dele, claro.
__Religião foi um capítulo à parte, sou católica, mas como minha curiosidade pelo novo sempre me levou a muitos lugares, também conheci diversas religiões, que por um tempo até foram interessante, depois algumas delas viraram um tormento (mas deixo claro que respeito a opção de cada um).
__Li muito, como sempre gostei de escrever, em consequencia ler também, nunca tive autor predileto, lia o que aparecia, li muita coisa boa, como Jorge Amado, por ex. até Paulo Coelho que apesar de toda critica, acho que merece um olhar mais atento, porque é o escritor mais vendido no mundo todo. ( mas não esta entre meus prediletos).
__Sexo, também me tornei compulsiva tudo oque gostei mesmo, na minha vida me viciei, tive inclusive que me tratar anos depois pra controlar minha compulsão. Na verdade me trato, mas algumas até gosto..rs (cinica).

Todos esses momentos recheados com muita droga, exceto as horas que trabalhava no banco, nesse lugar não fumava, não é brincadeira trabalhar com dinheiro, então me continha, mas saia de lá por uma rua mais deserta e fumava, para ir para casa. Na empresa anterior, num certo tempo em diante, eu fumava todo dia na hora do almoço e voltava a trabalhar, ficava mais lenta, mas nem por isso deixava de fazer meu serviço e o mais absurdo é que meu gerente nunca nem sonhou com isso.
Eu aprendi a ser hipócrita, a dissimular, a mentir e manipular com perfeição. Até então eu ainda me conhecia e mostrava esses sentimentos para os outros. Só não atentava que eu voltava esses sentimentos aos poucos para mim mesma. Percebo hoje.

domingo, 17 de outubro de 2010

O que chamo de: aperfeiçoamento nas drogas

Numa dessas saídas eu o Fuca e uns amigos do bairro, resolvemos ir na casa de um deles em Santo Amaro ( vou citar o nome porque SP é grande..rs). Esse tal amigo não estava em casa, nós lógico já estávamos devidamente encharcados de anfetaminas e maconha. Rindo, alegres, livres. Um deles disse eu conheço um barzinho aqui que é “da hora”, fomos.
Quando eu cheguei nesse bar que eu vi aquele monte de roqueiros, cabeludos tanto mulheres quanto homens, ouvindo Raul Seixas eu me senti em casa, pensei nossa encontrei minha família. Eram os meus iguais e nesse lugar que vou chamar simplesmente de Bar , fiz “morada”, meses depois dessa primeira vez, eu comecei a ir praticamente todas as noites. O porque dessa quase liberdade foi o fato de eu ter arrumado o meu primeiro emprego e com isso, com a independência financeira eu consegui mais confiança dos meus pais. E, já que eu tinha meu dinheiro e inclusive ajudava minha mãe com um tanto, eu consegui ficar mais livre. Era uma empresa conhecida grande, entrei na produção, 4 meses depois estava no escritório, porque precisavam de mais funcionários nessa área e optarem por vem quem dentro da produção tinha algum conhecimento e por incrível que pareça eu era a única que na época tinha um curso de datilografia..rs. Mas graças a isso que consegui trabalhar como aux. de escritório e depois administrativo.
E não sei como eu consegui viver nos dois mundos sem que um interferisse no outro. Trabalha, não faltava era uma boa funcionaria, gostava de aprender ( o novo, o conhecimento sempre me chamou a atenção). E na sexta feira a menina aparentemente comportada dava lugar à drogada que saia da empresa, e ia direto pro Bar, já estava tudo combinado encontrava a Suzi e o Fuca no meio do caminho, passávamos numa farmácia, comprávamos um vidro de uma anfetamina que usamos como se fosse bala doce realmente.Entre eles o artene (que chamávamos  de artemis)  e umas cartelas de diazepan ou optalidon havia tantos outros remédios que misturados a bebidas davam uma reação louca, até um xarope chamado Panbenyl era usado (o Bentyl era outro que tinha uma reação estranha depois de ingerido ficávamos quase cegos. Nem sei se deveria citar o nome dessas remédios, mas vai, de repente serve como alerta). Chegávamos no bar, pedíamos uma cerveja pra começar e enchíamos os copos de anfetamina, 10 minutos depois já estava chapada, dava mais um tempo ia fumar maconha e assim ia até a hora de ir embora, meia noite uma hora por ai eu tinha que estar em casa porque era o tempo que eu gastava da escola a minha casa ( nessa momento mudei de escola arrumei uma estrategicamente entre o local de trabalho é o bar, distante de casa propositalmente.
Minha vida era isso : trabalho, na escola só a matricula porque se fui uma semana às aulas foi muito ( isso no 3º colegial) todas as noites no Bar se segunda a sexta, no sábado salão de rock e do domingo um show de rock em algum parque de SP. Conheci todo tipo de pessoas, tenho amigos ainda hoje, dessa época da minha vida.
E, posso dizer que desse momento em diante, mesmo tendo sido o momento que mais usei drogas em todas as suas variedades, foram os anos mais felizes da minha vida. Até uns acontecimentos futuros mudarem tudo.

Quase lá

Dos 18 aos 19 anos, sempre por conta de muita mentira eu conseguia sair, O Fuca era meu vizinho e nossas famílias se conheciam, meus pais gostavam dele era o único que meu pai não se importava que eu andasse,  perfeito era minha porta de liberdade, meus pais não tinham lá essas confianças em mim, mas nele eles tinham, então um tanto da minha liberdade estava garantida, eu estava cursando o 2º colegial e apesar das tantas faltas, de muitas vezes ter assistido aula completamente chapada, eu gostava de estudar, sempre gostei e consegui passar de ano  As férias era o pior momento porque eu não podia sair a noite. Muitas vezes eu dizia que ia pra casa do Fuca , passava na casa dele : qualquer coisa estive com você e ia pra casa da Lua, onde fumava, bebia e 3 horas depois estava em casa cínica, como se nada tivesse acontecido, ainda sob efeito de drogas, mas eu já havia aprendido a disfarçar. Em casa continuava a mesma coisa, brigas com os pais, eu querendo que eles me entendessem, o mesmo de sempre.  Até um momento que eu percebi que não haveria jeito, cheguei a seguinte conclusão: meus pais não são capazes de me entender e ponto. A vida é minha e vou fazer do meu jeito. Relendo meus diários agora, vejo que eu reclamava muito. eu queria sair das drogas e até saia, ficava uns dias sem usar e achava tudo sem graça e voltava a usar e já não entendia mais nada. Num desses momentos percebi que aquela “eu” que eu conhecia havia se perdido. Agora eu era “essa” é apesar de não me compreender, de não gostar muito eu não tinha escolha. Porque eu gostava dos meus amigos, porque eu gostava de rock, porque eu odiava os “caretas” e acima de tudo mesmo que no fundo eu soubesse que a droga podia me levar a algo nada interessante, eu gostava de ficar chapada, odorava aquela sensação de estar fora do mundo, fora da terra, da realidade. E  como sempre uma coisa puxa outra, o bairro começou a ficar pequeno e comecei a sair. Lógico que para os meus pais eu estva no cimena, em algum clube, num teatro ( fui em cinema uns 5 anos depois, teatro devo ter ido umas 2 vezes por conta da escola) Tudo mentira!
Hoje: Volto a repetir nós adictos somos manipuladores, por necessidade, mas somos. Depois falo como estou tentando me livrar de todos esses hábitos. Seja a mentira que passei a odiar ou a maniplação e tantas outras coisas que preenchem a vida de um adicto na ativa.
Não pensem que eu não gosto de filmes, gosto muito, mas não tenho paciência pra ficar 2 horas ou mais sentada quieta num cinema, prefiro assistir em casa, levanto, ando, dou pausa. Ainda sou ansiosa.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Medo!

Antes de passar pra fase que eu chamo de aperfeiçoamento com a drogas, vou contar uma das “roubadas” ( confusão, encrenca, perigo), que só acontecem com quem se envolve com o que está errado:
Eu a Lua e a Suzi, éramos 3 adolescentes bonitas, cada uma com um tipo físico (uma loira, uma morena e uma branca) chamávamos a atenção,  a idade o tipo físico, o fato de sermos mulheres, facilitava muito conseguir drogas. Num desses tantos dias que eu saia de casa, pra ir pra escola e não ia, fomos pra casa da Lua, nesse dia eu estava com muita vontade de fumar. Era começo de noite e nós fomos numa “boca”, o traficante já era nosso conhecido, mas ele disse que não tinha chegado ainda, mas que tal fulano que estava vindo podia fazer uma presença ( gíria usada pra dizer que ele nós daria a droga) pra nós, melhor ainda. A lua o conhecia vagamente falamos com ele, ele disse que tinha e saímos pra um lugar mais afastado. Num pedaço do caminho encontramos com dois amigos dele que estavam de carro, ele falou pros caras que ia com as “princesas” dar uma bola (fumar maconha) . Vamos fumar juntos e nós entramos no carro (era em torno de uma 8 da noite por ai). Eu nunca tinha visto nenhum dos três, um deles tinha mais ou menos a nossa idade ou um pouco mais e os outros dois era o que eu considerava na época velho ( algo em torno da idade que tenho agora...rs uns 40 anos. Como mudamos!). O motorista pegou  uma estrada que saia próximo a represa (lugar onde fumei pela primeira vez), Mas ele não ficou tão próximo da avenida, começou a adentrar em lugares que mal havia casa na época, iluminação nem pensar. Eu olhei pras meninas e pensamos a mesma coisa onde esse cara esta indo, e a Lua perguntou, ele disse que era um lugar “da hora”, paramos depois de rodar uns 15 minutos no meio do nada em uma casa abandonada a beira da represa, descemos uma escada subimos na laje dessa casa e um deles começou a preparar a droga, fizeram um cigarro de maconha de um tamanho que eu nunca havia fumado antes e começamos o “acende, puxa, prende e passa” ficamos uma meia hora por aí,  até fumarmos tudo, estava uma noite quente, a beira da represa eu estava achando tudo lindo, fora algo estar me incomodando por não conhecer os caras e estarmos tão longe de casa. Mas tudo bem valia a loucura, mal acabamos de fumar e... lógico os caras começaram a querer nos beijar, que nojo!
Eram homens, fortes, vividos e eu ainda era virgem, pensei : a gente de ferrou esses caras vão estuprar a gente . E bem que tentaram depois de muito “para com isso, chega, não quero, vamos embora”. Eles concordaram, saímos daquela casa e voltamos pro carro. É horrível usar droga e sentir medo, mistura reações a adrenalina fica a mil, os sentidos entram em conflito. E aquele filho da puta, começou a dirigir e  nós não reconhecíamos o lugar, de repente ele parou mais distante ainda de onde estávamos no meio do “mais nada ainda” e disse que eles não iriam sair de lá assim, sem nada. Saímos do carro e começaram o assédio novamente, sabíamos que se não fizéssemos algo não teria jeito, a Lua entre nós três disse palavras rápidas em quase silêncio: vamos fugir, vamos correr. Assim que conseguimos tirar aquelas mãos nojentas de cima da gente, começamos a correr, mas um deles me pegou pelo braço, nem lembro o que tanto falei a ele, lembro que ele me olhava sem dizer nada com um ar ironia, rindo, as meninas tinham sumido na estrada, numa escuridão onde a claridade era somente da lua, eu não tinha muito que pensar, mordi o braço do fdp e saí correndo o máximo que podia, quando me afastei um pouco as meninas estavam escondida abaixamos num matagal, capinzal algo assim, ficamos as três ali o mais quieta possível, o coração a mil por hora. Felizmente depois de procurarem um tempo desistiram e foram embora!
Mas e agora, onde estávamos que lugar era aquele?! vamos andar, correr na única estrada que víamos, e saímos sei lá quanto tempo ficamos andando, chegamos a um clube, perguntamos ao segurança onde estávamos e como faríamos pra chegar a tal estrada. Ele explicou, eu não entendi nada, só entendi que estava muito longe de casa e pro meus pais eu estava na escola. Continuamos a andar,  uns 10 minutos depois vimos um farol de carro, a primeira reação foi nos escondermos, achando que eram os fdp, mas graças a Deus não. Era o motorista desse clube, nós praticamente nós jogamos na frente do carro falamos que estávamos perdidas, se ele nós levaria até tal lugar, ele aceitou e nós deixou muito próximas a casa da Lua. Acabou o pesadelo! Eu nunca havia sentido tanto medo como nesse dia e demos sorte, porque depois, pensando bem eles não fizeram conosco o que bem entenderam porque não quiseram.
Lições aprendidas: Nunca mais peguei carona com estranhos, e só usava drogas com pessoas da minha  faixa etária.
Hoje: Quanta irresponsabilidade, imaturidade em todos os sentidos. Foi um momento de muito, muito medo!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Falta de diálogo

Nessas alturas, eu sendo menina já fumava, os meninos do bairro então, já fumava fazia tempo, foi só nos encontrarmos na rua e fumarmos juntos. Naquela época a droga invadiu: maconha, cocaína e as bolinhas tomaram conta dos jovens, não vou dizer que todos experimentaram, mas muitos ao menos uma vez usou alguma coisa, dos que usaram, muitos como eu foram ao fundo.
Dentro de casa nada mudava meus pais continuavam na opressão deles e eu clamando por liberdade. Trecho do diário: “estou péssima, to confusa, to sem ninguém, precisando de ajuda, preciso desabafar, chorar, falar, gritar, de tudo, liberdade! Liberdade quando eu vou ter você? Eu acho que vou conversar com meus pais eu preciso de diálogo, o pior é que nem sei o que quero, a maconha ta atrapalhando, ta uma confusão do caramba na minha cabeça. Eu to necessitando demais falar com alguém, que seja uma pessoa adulta, que possa me entender. Eu quero ser livre, poder sair de casa, passear ter amigos, amigos que saibam aproveitar a vida aqui na “terra” e não em “outro planeta”.
E dolorido escrever isso, reler isso, mas era o que eu sentia na época, e como não foi possível diálogo, muito menos sair com permissão, porque para meu pai ninguém prestava, eu continuei a mentir. A única porta de liberdade que eu tinha era a escola, às vezes saia durante o dia, dizendo que ia à casa de uma tia, ou prima e mudava de caminho, mas era tudo muito rápido, com medo, com a fiel amiga adrenalina. No mais tudo acontecia  a noite. Eu comecei a não ir mais para a escola, ia mas não entrava ficava la fora, na verdade a uns cem, duzentos metros de distância, junto com a Suzi e quem mais estivesse bebendo e fumando, assim eu podia rir, ficar a vontade sentir a tão sonhada liberdade que tanto queria, já tinha virado rotina. Algumas vezes quando meus pais iam dormir, eu pulava a janela do meu quarto e ficava a madrugada toda com um namorado que tinha na época ( lógico meus pais não sabiam nem do namorado, muito menos da janela!). Apesar de estar com 17 anos, e de usar droga praticamente todo dia ainda era muito imatura, não era boba, mas ainda tinha sonhos que toda adolescente nessa fase tem e tinha uma vantagem  apesar de toda o apressão dos meus pais eles eram amorosos me amavam eu sentia isso, e cresci ouvindo minha mãe dizer:  menina que sai ( leia-se transa) com qualquer um era vagabunda. É lógico que eu não ia esperar até o casamento, mas também não queria ser igual a Lua que transava com todo cara que aparecia. E assim fiquei só “ mão.. boca,  aqui, lá, acolá com os moleques com quem ficava”  até meus 18 anos quando transei pela primeira vez, com um garoto que namorei desde os 12 anos, uma historia à parte, mas alguém que gostei muito, dentro dessa loucura toda que estava se tornando minha vida. Adorei o sexo,  e lógico que compulsiva que sou fiz dele um aliado.
Hoje: mas já vou deixar claro que não me prostitui por causa de droga, como muitas fizeram. Nisso as brigas dos meus pais ajudaram . Eu tinha meu orgulho, nunca fui fácil achava mais interessante ser dificil, do que sair dando pra todo moleque que me oferecesse droga, é hoje penso ainda bem!. Não culpo meus pais pelo meu uso de drogas, tenho boas explicações pra isso, mas quero atentar esses textos o maximo que eu puder somente em mim e nas drogas, sem grandes envolvimentos de outras pessoas.
Converse com seus filhos, sem briga, sem superioridade. Acompanhem eles o momento que eles vivem não compare ao seu tempo é pessimo isso. Conversem, era tudo que eu queria e não tive nesse momento da minha vida.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Mudança de estratégia

Em poucos meses, eu diria uns 5, 6 meses emagreci uns oito quilos, comecei a usar roupas pretas, muitas bijuterias feita por hippies, franja cobrindo o olho (franja reta, na época não existia emo, ainda bem..rs). As minhas amigas de bairro,já não ficava mais com elas, agora eu tinha a Lua, o Fuca e quem mais aparecesse. Pelo visual meio roqueira meio hippie meus pais não se importaram, pelo fato de ter emagrecido é porque estava na adolescência momento de mudanças físicas e tudo bem, quanto as amizades, era na rua, me preocupei de não deixar meus pais saberem com quem eu andava, sempre encontrava-os longe de casa, tentei não mudar meu comportamento em casa, não ao ponto de desconfiarem de algo. E assim levei por mais um ano, consegui completar a oitava série ( houve muitos momentos que fumei nesse tempo, mas foi sempre uma repetição de ritual, encontrava a Lua na casa dela íamos pra um lugar afastado e usávamos, esperava um tempo até aliviar a loucura e voltava pra casa) Me comportava normalmente, pelo menos aos olhos dos outros. Nessa época fui aprendendo como me dominar, eu precisava fazer isso pra poder enganar meus pais e toda a família, então aprendi que podia fumar, mas havia uma quantidade, um limite pra não me perder nos meus atos. E achava que ninguém iria descobrir. Até uma vizinha me ver junto com a Lua e contar pra minha mãe ela não disse nada, duas noites depois eu estava com uma ponta de maconha no bolso e ela encontrou, não tinha como desmentir estava óbvio demais. Ela chamou meu pai e eu falei a verdade, quase a verdade, disse que tinha fumado sim, chorei, fiz minha cena de boa filha e jurei nunca mais usar drogas (aprendi a mentir nesse momento). Fiquei quieta por uns dias, fizeram marcação comigo, me prenderam mais ainda, e a vontade de usar só aumentava e minha raiva mais ainda, afinal meu desejo era a liberdade. Eu aproveitei esse tempo pra aprender a mentir, a desmentir a verdade, a manipular.
Comecei no ano seguinte a fazer o primeiro colegial à noite. E todas as noites eu saia pra escola, mas, raramente entrava, as vezes que fazia que isso era porque gostava mesmo de estudar, mas meu gosto por maconha, bebidas e anfetaminas só aumentava. Detalhe: uma droga nunca vem sozinha sempre tem alguém pra perguntar você já experimentou isso? Não? Quer? Quero!! E fui também apresentada às anfetaminas chamadas de “bola”. Pra me proteger de flagrantes familiares comecei a usar colírio, cortei um pouco a franja, o colírio foi meu aliado, porque agora já não tinha mais os olhos vermelhos, pequenos sempre foram, então não era problema, dentro da mochila sabonete, pasta de dente um "kit pra tirar a tabela" .
Nesse novo colégio uma nova amiga, era como se fosse da minha família vou chamá-la de Suzi, ela sabia que eu fumava, disse que queria fumar também, eu disse tem certeza ela aceitou adorei claro (afinal ser inconseqüente e ter companhia nessa inconseqüência, na adolescência é sinônimo de perfeição). Eu a Lua a Suzi e o Fuca, fizemos coisas de chocar qualquer um nos anos seguintes.
Importante: Sei que os pais, na grande maioria, culpam os amigos, dizem que fizemos isso ou aquilo errado, por causa das más companhias. Não, não é o amigo que traz a droga, nós saíamos juntas para comprar. Discordo disso, usei porque quis, mudei de estilo porque quis, nunca chegaram a mim e disseram faça, isso ou aquilo, sempre fui atrás não culpem os amigos. Observe os filhos é nele que está o problema e em mim que estava o problema.

Continuando...

Eu e a Lua nós tornamos amigas inseparáveis, eu sempre fui mais pacifica, mais calma, mais contida, ela era explosiva, encrenqueira, era meu oposto, já que eles se atraem ou se distraem...começamos a andar juntas, ela já não estuda mais e eu na 8ª série na mesma sala junto com a Mari, a Vera e o Fuca ( os primeiros com quem fumei maconha). Nesse momento ainda não usava direto, mas sempre que possível fumávamos no recreio. Voltávamos pra sala de aula totalmente chapadas. Trecho do diário: " Estávamos os quatro chapados dentro da classe, rindo feito loucos sem ter um motivo lógico, eu tive uma viajem tão louca estava dentro da classe e me senti na Espanha, vendo uma tourada era até capaz de visualizar isso, foi o maior barato, a gente zuou, rimos muito e agora por sinal eu estou com muito sono é uma das reações. Valeu mesmo, amanha tem mais" . Eu não me importava em ir a biqueiras (boca de drogas), era uma adolescente de 16 anos, os caras vendiam com a maior facilidade quando eu a Lua aparecíamos em lugares assim éramos chamadas de as princesinhas "as princesinhas chegaram, atente elas, elas merecem". Era muito fácil comprar droga, maconha nunca foi cara, o dinheiro do lanche ia pra droga e cigarro, aprendi a fumar cigarro meses antes no momento que li aquele livro e senti vontade de usar droga, pensei, mas nem sei fumar cigarro, então vou aprender. Aprendi me viciei e esse infelizmente fumo até hoje (vou dedicar comentários a respeito de cigarro depois), Estudei em colégio público, sempre fui de família pobre, mas era feliz isso não me fazia falta (apesar de já ter tido ocasião de não poder ir em festinha quando criança porque não tinha sapato pra ir, o único que tinha era muito velho) mas não estava na linha da miséria, tinha o básico, comida nunca faltou amor muito menos. Estava bom, eu fui uma criança feliz, de verdade. Nos dias semanas e meses seguintes continuei fumando junto com a Mari e a Vera, elas pouco tempo depois pararam de fumar, não quiseram mais (sábia escolha) eu ao contrário nem pensava em parar,  as taxei de caretas e continuei com o Fuca e a Lua. Fora a droga nós três tínhamos em comum o gosto pelo rock, pelo novo pela rebeldia (sou amiga dos 2 até hoje, amo-os, não os culpo de nada começamos juntos).
Hoje: nesse momento e ainda por muitos anos seguinte eu me sentia feliz, era feliz mesmo usando drogas, porque é obvio existe um lado divertido gostoso nas drogas, se não existisse não teria continuado ( o total desespero, o real preço de usar droga paguei mais tarde e pago até hoje) nessa época não. Consegui terminar a oitava serie era uma boa aluna, nunca repeti  e gostava muito de estudar, sempre gostei de aprender. Ainda tentava ir a cinema com a turma "normal", tentava me divertir como todos, mas a turma da esquerda era tão mais divertida, tão mais intrigante, eram livres e eu sentia uma vontade enorme de ir além, queria mais droga, não queria parar como as minhas amigas haviam feito, queria o novo, o desconhecido, queria aventura. E fui além, muito além do bom senso.

sábado, 9 de outubro de 2010

Familia - Ponto Importante

Venho de uma família maravilhosa pais amorosos dedicados, não sou o perfil de usuária que veio de uma família desajustada. Se algo tenho a reclamar, foi o excesso de proteção, principalmente do meu pai, me prendia muito, não poder ir em festinhas na casa vizinha porque era tarde, porque tinha muitos moleques, etc. Isso me deixava extremamente irritada, eu queria ser livre, hoje analisando esse e outros detalhes, vejo que encontrei a liberdade que tanto queria nas drogas, e sem contar que estava em plena adolescência, plenos anos 80, com bandas de rock, com a liberação feminina, com os resquícios do paz e amor dos hippies. Era  gratificante ser diferente me rebelar contra a sociedade, mesmo que eles não se sentissem atingidos eu sentia isso. Proteger demais é tão perigoso ou até mais perigoso que dar excesso de liberdade, porque na primeira oportunidade fiz tudo o que não podia, só de revolta, só pra sentir o gosto da liberdade de uma vez só. Pais se vigiem.
PONTO IMPORTANTE: existe grande parte de pessoas que conseguem beber socialmente, fumar socialmente, cheirar socialmente. Usar drogas de forma moderada e manter uma vida quase normal, ao menos sem atrapalhar a outra parte dela. NÃO é o meu caso, estou do outro lado, na parte que é compulsiva, onde um é pouco e mil não bastam. Aqueles que não adquiriram a doença da adicção, julgam, achando que os viciados são vagabundos, safados, que não saem dessa vida porque não querem. Outra mentira! Desminto na cara de quem quiser, não conseguia, estava morrendo e não conseguia parar, estava enlouquecendo e queria só mais uma dose de qualquer merda que me tirasse da realidade.
Ou seja, não é somente em famílias problemáticas que estamos, que aparecem pessoas que desenvolvesse essa doença.
Ou seja, não fui fraca, não tive escolha, sou portadora de uma doença que não tem cura que é progressiva e mortal. Não é simples como pensam: ‘ é só querer”, dou risada disso, se fosse que bom seria. Se fosse não teria tido convulsão nem overdose (histórias futuras).
A sociedade tem que se conscientizar que somos (falo de mim e dos usuários de drogas) doentes e devemos ser tratados como tal e não discriminados, nem ser a coitadinha.  Obrigada.

Um degrau abaixo

Depois de ter usado a primeira vez, já não queria ficar mais sem fumar maconha, lógico comecei a conhecer pessoas diferentes daquelas comportadas do colégio, conheci uma hippie (vou chama-lá de Lua) que se tornou uma irmã, a melhor amiga que tive por anos a fio, eu 15, ela 14anos, ela mais experiente que eu, já havia usado várias vezes. Oba era tudo que eu queria, alguém "mais esperto". Tudo veio como uma avalanche , um novo mundo, novas pessoas, eu já gostava de rock sempre ouvi em casa, mas foi nessa época que conheci também uma turma de roqueiros, perfeito! Até pés de maconha eles tinham no quintal (isso em 1983, não adianta ir atrás não existe mais..rs). Comecei a conhecer a outra eu, a pessoa com quem convivo até hoje, sexo drogas e rock and roll, não necessariamente nessa ordem. na verdade o sexo veio mais tarde, a droga me interessava mais, naquele momento - Trecho do diário: " Hoje foi o maior barato Eu a Mari e a Vera, cabulamos aula e fomos pra casa do Roberto namorado  do Mari, ele levou a gente pra casa do Claudio muito louco tem pé de maconha no quintal, cheguei no paraíso. Começamos a conversas nos "entrosamos"com a turma, a gente foi lá especialmente pra pegar um baseado. Mas também dei um maio no Claudio. Eu tava muito maluca. Conheci uma turma nova, uma turma de malucos, todos usam "bagulho". Foi o maior barato, valeu"!
Hoje: Valeu porcaria nehuma, quase valeu minha vida, atentem pra filhos cabulando aula, pro olhos vermelhos, mudança de comportamento. Não se iluda achando que o teu "nene" não vai fazer isso! Não se iluda.Vai sim.
Se tem uma coisa que nós usuários de drogas aprendemos desde cedo é a manipular, afinal tive que saber como virar na mão de traficante, usar sem que a familia percebesse, manter a aparência de boa menina. Somos por necessidade manipuladores.

Mentira!!

Fico muito irritada quando leio algo dizendo que maconha não é tão inofensiva!. O que passa na cabeça de pessoas que dizem que ela não é tão prejudicial quanto o cigarro por exemplo, sei que quimicamente falando o cigarro e mais prejudicial, mas psicologicamente a maconha destrói neurônios, destrói a memória, acaba com o convívio social. Quem diz isso nunca teve uma experiência próxima, com um compulsivo, no caso eu uma compulsiva. E ela juntamente com a bebida são as portas abertas pra outras drogas mais fortes. Não inocentem a maconha é graças a ela que hoje tenho enorme dificuldade de concentração, memória? oque é isso?..rs, Dou risada porque aprendi a conviver com a doença que tenho. Mas não tem a menor graça destruir a capacitade psicologica, por conta da maldita maconha, que de inocente não tem nada.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Números, dados

Hoje tenho 44 anos, a menos de 2 parei de usar droga, passei por todos os infernos, me enfiei em todo tipo de roubada, vivi anos na merda, por causa dessa curiosidade de adolescente. Foram 26 anos de uso de drogas, não foram consecutivos,  pq durante 4 anos eu fiquei limpa, mas voltei ao uso então são na verdade 22 anos de droga pelo corpo, pelo cérebro, nas emoções, sentimentos e ações. Tudo ou recheado ou coberto ou camuflado com toda variedade de droga, com exceção de chá de cogumelo e heroína, o resto experimentei de tudo, me viciei em cocaína e maconha. Ah! maconha não vicia?, não vicia um caramba! substitui no desespero qualquer droga mais forte pela maconha e veja se não vai viciar.
 Experimenta fumar desde a hora que acorda até a hora de dormir, não pq queira, mas pq o corpo pede e a dor física e tanto que você atende. Não dá outra! Vicia e muito. É doença, não tem cura.

O começo

No dia 15 de Abril de 1983, as 4:40 da tarde, eu e meus fieis amigos de escola, prontos para nossa primeira experiência com droga, havíamos "cabulado" aula, estávamos num lugar longe de casa, a beira de uma represa, com o objeto de meu desejo nas últimas semanas: maconha! . Trecho do diário, usando inclusive as gírias da época: " Depois de umas 6 tragadas eu vi tudo sumir, ou melhor não vi mais nada, daí eu avisei a turma que estava passando mal, a gente resolveu vir embora, eu nem sei como cheguei em casa, meus olhos estavam pequeninos, eu saia o tempo todo fora de mim, só de vez em quando eu pisava na terra. É uma sensação assustadora, estranha é um treco totalmente diferente de tudo o que já senti, é uma sensação de quem vai desmaiar, mas sem medo, você não tem noção do lugar que está. foi o maior barato, uma loucura. Taí, fumei maconha a tão famosa e continuo na minha".

Ah!, se eu pudesse imaginar o que esse momento significaria na minha vida, o quanto esse momento mudou tudo pro resto dela.

Esse foi o momento do uso, mas por mais inusitado que pareça a minha vontade de experimentar droga, havia surgido a uns dois meses antes, quando eu li, um desses tantos livros de como ficar longe das drogas, o titulo era algo como  'não se iluda com drogas', 'a ilusão das drogas'. Eu não conseguia sentir medo das "contra indicações", só me interessava saber como era se sentir livre, sonolento, fora da realidade!. Isso fora da realidade foi o que me atraiu.
Estava com 15 anos, sendo que não são os 15 anos de uma adolescente de hoje, eu era muito mais inocente, a minha geração era ( em comparação a geração de hoje).