Me deu vontade de gritar ao mundo, toda a minha experiência com drogas, ao absurdo que essa escolha me levou. Não vou poupar palavras, palavrões, sentimentos, nenhum deles, todos seram ditos sem a menor maquiagem, afinal se não poupei minha vida, não será agora que vou medir palavras.

Tudo que ler é a mais pura verdade, como vivo agora e muitos momentos de meus diários, escrevi tudo esses anos todos. Não vou citar nomes verdadeiros, nem o meu, muito menos os daqueles que comigo dividiram esses 26 de vida no uso ativo de drogas. As informações que eu omitir será apenas para evitar que invadam minha privacidade, minha vida no momento.

Não sei que ordem vou dar a cada postagem, não sei se vou seguir ordem cronólogica. Vai assim do jeito que eu sentir vontade de contar. (Desculpem, se na forma de redigir contém erros seja eles quais forem eu sei que é agradável aos olhos ler algo sem erros, mas como não sou escritora e estou mais atenta aos sentimentos, é bem provável que vá acontecer mas vou tentar me policiar).

Caso queiram entrar em contato, para dúvidas, perguntas, alguma curiosidade - email:
existenciaativa@hotmail.com

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Era esse o meu grito ao mundo.

Devo confessar algo a vocês se eu ainda estivesse usando droga, mesmo que eu tivesse paciência e condições psicológicas de fazer esse blog, eu não iria fazer.
Eu precisaria primeiro resolver as coisas pra depois falar, porque não aceitaria opinião de ninguém. Hoje não ajo mais assim, quando me acontece algo no primeiro instante eu já ligo pra amigos do grupo e “despejo” tudo. Sozinha nunca mais.
Joguei aqui toda minha verdade toda a vida de uma ex-drogada.
Agradecimentos a todos que por aqui estiveram, estão e possam vir. Não sei se pretendo continuar postando algo da minha vida no momento já falei demais e gosto do mistério...
Na verdade o que eu queria gritar eu gritei: o começo, meio e fim do meu envolvimento com as drogas, a euforia dos primeiros anos, o sofrimento e decadência da minha vida e finalmente a admissão de uma doença séria e infelizmente sem cura.
E complicado controlar uma doença movida pelo desejo, pela vontade, continuarei lutando. Não pretendo desistir de mim.

Vou estar sempre por aqui, “me visitando” e visitando aos amigos que fiz nesses meses de angústias escritas, chorei por muitas vezes, mexi com sentimentos ainda não resolvidos, com dores que não tem como resolver, por muitas vezes tive muita vontade de usar drogas quando escrevia, mas não fui atrás delas.
Gostei muito do resultado de ter gritado minhas palavras, esses encontros virtuais, que me fizeram muito bem.
Esse blog só foi possível de continuidade pela atenção que me deram, de coração muito, muito obrigada, se eu pudesse abraçaria um por um!
Tem pessoas especiais aqui!

Deixo esse espaço aberto pra qualquer pergunta, o que quiserem saber sobre drogas respondo, me tornei phd nisso..rs. Rio porque chorar, já chorei demais.

Hoje estou mais serena pelo fato de não mais depender de droga para viver, já passei por muitas situações nesses 2 anos limpa e não usei,  no passado por bem menos já teria usado. Consciente que tenho uma doença que é incurável, progressiva e fatal, mas que pode ser estacionada.
Feliz demais por ter conseguido sair daquele mundo maldito.
Se conselho valesse, eu diria pra quem nunca experimentou: nunca experimente e muito pior do que podem imaginar, aos que usam tomem consciência da doença, mas esse não é meu estilo temos o livre arbítrio, então que essa liberdade de escolha seja usada para o bem, respeito ao corpo e espírito, nascemos sem vicio nenhum, desnecessário ter que sofrer tanto para aprender a valorizar o dom maior que Deus nos deu: a vida.

Ainda não aprendi a me amar por completo, mas não me mato mais.
Ainda não aprendi a amar a vida, mas não a odeio mais.

Termino com algumas palavras e uma oração:
Eu me abraço a vocês e uno meu coração aos seus para que juntos possamos fazer tudo aquilo que sozinha eu não consigo, Só por hoje, funciona, na prática .(N.A.)

“Deus conceda-me serenidade para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar aquelas que posso e sabedoria para reconhecer a diferença”.(N.A.)

Meu sincero carinho a todos que aqui estiveram de uma forma  ou de outra e aos que estão por vir, espero que meu pesadelo não seja o pesadelo de outros.
Muita boa sorte em suas vidas!!

Assino pela forma que me chamaram nesses meses e que agora tenho o direito de ter novamente: Vida!

quinta-feira, 17 de março de 2011

O melhor disso tudo!!

No final das contas há de ter uma recompensa por tanto sofrimento:
A minha doação como ser humano.
Hoje estou em treinamento para visitar clinicas psiquiátricas (como aquela em que estive) poder ir a cadeias, ir a clinicas de desintoxicação e contar a minha história. Na intenção de que minha história de vida possa vir a ajudar alguém, quando essa pessoa voltar à sociedade e conseguir com isso que ela vá à uma sala de Narcóticos Anônimos e continue sem usar drogas. Porque dentro de uma instituição é fácil o difícil está aqui fora no dia a dia.
Já estive em encontros de 3 dias de temáticas, momento fantástico na minha vida, de total espiritualidade.
De uma simplicidade, nada mais que do que ouvir pessoas que estão limpas a múltiplos anos, mas com uma energia que só pode ser a presença de Deus.
Se não me rendi ao programa totalemnte e porque sempre tive uma grande aversão a grupos agregadores (concordo que toda unanimidade é burra..rs) Mas me rendo todos os dias no sentido de ter consciência que sem eles volto às drogas, assim me ajudo e do meu modo tento ajudar ao próximo.
Coordeno as reuniões de um dos grupos toda semana (somos servidores de boa vontade, não ganho financeiramente nada por isso, mas de paz de espírito ganho muito, muito e tenho plena certeza que ajudamos a recuperar doentes assim como eu, muito mais que a sociedade hipócrita).
Receber o recém chegado que vem das ruas, destruído, falido em todos os sentidos (assim como eu um dia cheguei) e observar ele aos poucos voltando, ganhando peso, se emocionando, falando de sua dor e algo que me faz muito bem, poder abraçar esse irmão em espírito e dizer estamos juntos, somos iguais, pega minha força pra curar tua dor, até obter tua própria.
Só consigo fazer isso porque não fica mais me perguntando “porque isso Deus, porque comigo” hoje confio Nele, ponho minha vida nas mãos Dele e vou, literalmente.
Adquiro aos poucos confiança que antes não tinha e fé que antes não via.
Meu despertar pra vida, espiritual, emocional, psicológico está justamente nessa ajuda que graças a Deus hoje posso dar. E fazer o bem literalmente, não tem preço!..rs. Nem que seja eu mesma a pessoa ajudada, poder me ajudar e não me matar mais e bom demais!!
Domingo dia 20 de março completo 2 anos limpa! Livre do uso de drogas. Estou muito feliz, partilho com vocês a alegria de alguém que renasceu pra vida.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Os meus

Minha filha é uma linda garota de 15 anos, faço o que posso por ela, meu maior investimento está nos estudos, deixo de pintar a casa, de comprar moveis que já passaram da hora de trocar, de fazer a festa dela de 15 anos infelizmente não pude! Mas priorizo um colégio particular.
Cumpro com as despesas de casa, sou pai, mãe, homem é mulher dessa família..rs
O dinheiro vem da pensão que meu marido me deixou (digo que ele é o pai, pois mesmo de onde esta sustenta a mim e a nossa filha..rs). Tenho que brincar senão vira pesado!
Nunca o esqueci, mais divã..rs
Meus pais nunca, nunca souberam do meu uso, foi loucura conseguir esconder isso esses anos todos, nem eu mesma sei como consegui, mas o fato é que consegui é hoje agradeço por isso, ainda bem assim não os fiz sofrer. Minha filha também não sabe, não sei se um dia irei contar.


Meus amigos:
Ainda tenho contato com o Fuca, a Suzi a Lua e o Eri, sendo que:
O Fuca se tornou um alcoólatra, trabalha, ainda pensa que bebe socialmente, mas eu vejo que não, será no tempo dele.
A Suzi esta ótima, se formou, tem uma família linda e uma pessoa que bebe socialmente como a maioria, em ocasiões especifica apenas, mas não foi acometida pela doença da adicção.
A Lua é dependente de crack e álcool, converso com ela, tento mostrar como estou bem agora, a coloco em minhas orações e tenho esperança de vê-la limpa de drogas.
O Eri é o mais complicado, é um desses tantos “nóias” que vemos pelas ruas, se arrastando pela noite, atrás de mais uma e mais uma, já fiz de tudo, não só eu como a família dele, mas infelizmente a doença nele ainda está muito latente. Mas não vou desistir, dentro dos meus limites, porque sei melhor que ninguém que o querer dele é o ponto de partida é isso só depende dele.

Perdi muitos amigos, muitos morreram usando drogas ou em conseqüência dela.
A grande maioria da minha turma do passado de roqueiros e motociclistas, ainda bebe e muito! Mas a hipocrisia da sociedade em cima dessa droga é impressionantemente cega. Eu não posso fazer nada, só posso cuidar de mim.

Tenho um novo relacionamento, também ex dependente, assim fica mais fácil entendermos nosso comportamento, sem muitas palavras entendemos um ao outro porque sabemos de nossas dificuldades, que não são mais limitações, mas uma briga pra sermos “normais”.
Nos gostamos acima de nossas dificuldades é o que importa.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Pago o que eu chamo de “Carne dos Adictos”

Difícil saber o que a droga não alterou em mim
Ainda tomo fenobarbital todas as noites, tenho acompanhamento médico anual sempre os mesmos exames, nada novo está tudo bem, nunca mais tive convulsão, peço a Deus nunca mais ter.
Tomo um remédio chamado betaserc, também todas as noites pra controlar minhas tonturas e esse maldito zumbido, quando tenho crises tomo dramim, ameniza, ainda não consegui um controle razoável (na verdade preciso de um otorrino que dê devida atenção a essa minha doença). Sofro demais com ela.
Nunca mais trabalhei, faz 16 anos que não volto ao mercado de trabalho, por causa das drogas e agora em especifico pela síndrome, quando tenho crises fico uns 3 dias meia “vegetal” isso me deixa mal, me sinto inútil e gostaria muito de voltar a trabalhar, muito, me sentir útil em todos os sentidos. Mas qual empregador vai aceitar alguém assim! Não sei!
Não sei se porque no passado fugi muito da realidade, hoje tenho dificuldade em ter sentimentos mais intensos, de olhar pra algo e dizer: nossa gostei muito disso!. Gosto mas nem tanto. Quero, mas nem tanto. Aceito mas nem tanto..rs .Relacionamentos sérios está incluído aqui. A idéia de ficar sozinha não me assusta em nada.

Para não esquecer compromissos tenho que anotar, falo pra minha irmã, minha filha, a família inteira se preciso for, tenho dificuldades de memorizar. Aprendi muita coisa boa, li muitos livros, mas nem me perguntem nomes, sou incapaz de lembrar. Sempre digo que não tenho memória, mas sim uma vaga lembrança..rs
No meu perfil quando disse que “não estou procurando criticas, conselhos ou julgamentos, sou conhecedora da causa que escrevo, não há teoria.” Agora posso explicar isso: passei tantos anos me sabotando, me menosprezando, me inferiorizando,
que qualquer forma de critica não me era bem vinda, porque consciente ou não eu mesma já as fazia. Ainda não as aceito, quando se referem a essa parte da minha história já foi escrita, já esta feita, não há como mudar e ponto. Mas aceito de bom grato, sugestões no momento, no mundo que agora vivo na verdade preciso de ajuda e aceito sugestões construtivas.
Tenho dificuldades em lidar com meus sentimentos, entre o que quero é o eu realmente posso fazer, há muitos lugares que estão no meu “evite”.
Porque tenho uma natureza rebelde, aventureira e um gosto pelo que é proibido.
Não sou diferente de muitos, mas também não sou igual a todos. Sou inteligente, um tanto sequelada, mas sou..rs. Mas acredito que meu aprendizado maior está na sabedoria de vida.
Tenho dificuldades em tomar atitudes, o comodismo me parece mais fácil e principalmente em ter disciplina. Mas sei que esse comportamento é enganoso e algo que estou trabalhando.
Ninguém vive uma vida dessas que vivi é sai ileso, não há como mas, o tempo dirá o que será meu melhor, porque agora tento ao menos fazer o melhor, o bem, o simples.
E hoje tenho discernimento para isso.
Cansei de transparecer falsa impressão a meu respeito, sobre minha vida e os outros acreditarem.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Meu comportamento compulsivo e obsessivo

No decorrer desses anos todos de uso, houve momentos que eu achava que preenchia totalmente as minhas compulsões, só para descobrir no momento seguinte que NÃO havia maneira de me satisfazer, não há; quanto mais tenho mais quero (falo da doença da adicção). Parte do meu padrão era que nunca podia ou conseguia satisfação suficiente.
Tudo isso pra preencher um enorme vazio, acima de tudo espiritual, não vou discutir religião, mas eu, esse ser humano aqui, preciso de fé, preciso crer que um Deus olha por mim, e que Ele só Ele esta preenchendo esse vazio que existia dentro de mim, esse vazio que estava plantado na minha alma. Não me importo com religião, não faço questão de instituições (apesar de ser católica). Gosto da fé, da crença, também não somente ela porque não gosto de fanatismo. No meu ver tanto a ciência quanto a religião me preenchem, cada uma em momentos distintos.
Também não vou discutir filosofia, não tenho paciência pra tanto, esse porque do porque me cansa absurdamente..rs. Isso é explicável, na minha vida passei anos e anos procurando respostas, fazendo perguntas (sei que estava no lugar errado), mas mesmo assim, me cansei de tanto pensar e ler e procurar resposta em lugares errados e principalmente nas minhas atitudes erradas, por isso me canso psicologicamente, de fato.
Pode parecer estranho, mas me sinto adolescente, apesar de toda minha vivência, de tanta dor, não amadureci como uma pessoa normal, nenhum adicto é maduro, não passamos por esse processo que todos passam, ficamos anestesiados no tempo, nós anestesiamos tanto nossas vidas, que paramos na fase da rebeldia. Não sei se isso pode ser justificativa pra alguma coisa mas é fato.

Como me controlo...me contrariando: tenho vontade de usar droga e alimentar minhas compulsões, mas são bem poucas hoje em dia e quando elas aparecem não dou confiança, mudo o foco procuro falar com alguém que entenda meu momento, evito falar de nomes de drogas, de lembrar as loucuras do passado, de recordar sensações e assim vou seguindo, nada se compara ao bem estar de estar limpo, usar droga dá muito trabalho e mais fácil ficar livre, sair da cadeia que por tantos anos fiquei  e admitir que do meu jeito não da mais.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Hoje faz exatamente 1 ano 10 meses e 14 dias que não uso drogas.

Não foi fácil recomeçar nada fácil e ninguém disse que seria, tive crises de abstinência de enlouquecer, mas não fui atrás de droga agora eu não estou mais sozinha, conheci pessoas com o mesmo problema pessoas que não me julgariam por nada porque viveram a mesma realidade que a minha, pessoas que não iriam me dizer que: usa quem quer, que segue esse caminho por falta de caráter, porque é fraca, que escolhemos isso. Se fosse escolha não seria uma doença, se fosse escolha o mundo não estaria como está com adictos aos montes perdidos a cada esquina. A primeira vez que se usa pode ser escolha sim ( por curiosidade, influência) e alguns não se incomodam, experimentam e saem ilesos independente de família, situação financeira, etc. Outros passam pela mesma experiência e são tomados como foi meu caso e chegam onde cheguei, porque ficam doentes. É uma mórbida paixão a primeira vista.

Estou entre os meus iguais me tratam como eu sou, uma pessoa que possui uma doença (é muito importante admitir isso) uma doença compulsiva, chamada adicção que é incurável, progressiva e fatal.
Não sou uma fraca que entrou nessa porque quis ou vou usar muita droga vou ter uma convulsão, overdose , quase perder a sanidade parar numa psiquiatria, vou ficar com seqüelas, só ai eu vou parar”  porque foi isso que a droga me deu de presente.
Eu dizia que eu nunca me viciaria comigo não! Eu tenho controle sobre as dorgas,quando quiser eu paro!  Mentira. A droga é muito pior do que qualquer um pode imaginar, principalmente para nós usuários.
Se nunca parei antes foi porque não conseguia, não enxergava, não admitia o vício, fui tomada por uma cegueira que não consigo explicar.

Fiz o que me foi sugerido, segui o exemplo de quem é vencedor dentro do grupo, às vezes tive crise na sala durante a reunião, em casa, achava que não iria agüentar, mas passava alguns minutos e passava.
E os dias foram se passando e eu continuo limpa, porque meu desejo de ficar limpa prevaleceu. E eu tive apoio de iguais, isso foi importantíssimo!
Faço minha contagem de tempo pq as vezes perco toalmente a noção dele quando sinto vontade de usar e quando acho que um dia é muito, penso que 5 minutos são possiveis e mais 5 minutos e assim vai.
Tenho muito medo de voltar ao mundo das drogas, mas estou com planos novos, vida nova em todos os sentidos. Sem muita atitude ainda, mas tenho sonhos novamente.
Se começo a ficar muito só pensando muito ligo pra alguém, pois, sou a minha pior companhia e sei que meu isolamento é o núcleo da doença. Assim como a euforia, equilibrio é a palavra necessária. E esse só consigo me percebendo, tomando atitudes, me contrariando, fazendo o oposto do que sempre fiz.
So por hoje:
Concentro meus pensamentos na minha recuperação.
Acredito que alguém crê em mim e quer me ajudar na minha recuperação.
Tenho um programa a ser seguido e tento fazer da melhor forma possível.
Não sentirei medo, euforia ou raiva, penso nas pessoas que comigo dividem essa batalha e encontro essa nova maneira de viver.
Enquanto eu seguir o que me é sugerido, não terei nada a temer.
Entrego minha vida nas mãos de um Poder Superior.
Mas, isso tudo e muito mais e só por hoje..rs

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Desintoxicação de sentimentos...pensamentos.

Hoje percebo que parar com as drogas é difícil sim (porque vontade de usar drogas com menor ou maior intensidade é algo que sempre vai existir dentro de mim) tem que ter muito querer, ser forte, mas não é impossível (desde que não estejamos sozinhos e queiramos de verdade).
O mais difícil é mudar os sentimentos, pensamentos, e essa mudança é imprescindível, porque senão volto ao uso, isso é certo.
Essa parte pra mim é a mais difícil.
Deixar de lado, exemplos: manipulação, auto-piedade, ódio,  isolamento, euforia, raiva,  medo e aceitar a humildade, boa vontade, mente aberta, serenidade, ação, auto-aceitação, ação produtiva, fé, socialização etc. Difícil lidar com novos sentimentos e deixar de lado as máscaras é uma vida toda a ser mudada.

Admitir que sou impotente perante as drogas, que eu não tenho controle sobre elas, isso eu admito com facilidade, sou impotente sim, ela quem manda, como não quero ser mais mandada, fico longe dela. Evito lugares, pessoas e hábitos.
Só por hoje, apesar de ser “lugar comum” essa frase é fundamental na minha vida eu não consigo pensar que eu nunca mais vou usar droga, isso me apavora tanto que dá vontade de usar, mas só por hoje é possível, ontem passou, amanha posso fazer qualquer outro plano pra minha vida, desde que não inclua drogas.
A idéia de “nunca mais” ou “pra sempre” é algo descartado do meu vocabulário.
Eu usava drogas para esconder os meus sentimentos e dizia pra mim eu consigo controlar, na tentativa de fazer qualquer coisa para não encarar a vida como ela é. Fuga da realidade. Com isso a doença só progredia. Ninguém entendia, médico nenhum entendeu, eles queriam me ajudar com medicamentos (mais droga). As pouquíssimas pessoas que sabiam não entendiam afinal eu parecia ser forte, porque não conseguia parar? Ou será que ela usa droga? Ah, ela não!
Meus sentimentos, pensamentos é que necessitavam de mudanças. Eu, mais cega do que todos, me afastando do mundo, vegetando e gritando em silêncio.
Não existe adicto social, culpava tudo ao meu redor pela minha decadência, era a depressão, o pânico, a morte do meu marido, o mundo, a vida, Deus. Afinal precisava de desculpas pra continuar usando.
Porque estou dizendo isso, porque qualquer forma de sucesso era estranha e assustadora, quanto mais essa auto–aversão crescia, mais eu precisava usar para fugir e fugir...fugir de responsabilidade, de disciplina: tenho dificuldade pra lidar com isso. Agora é hora de voltar à realidade, experimento uma variedade de sentimentos que estavam anestesiados esses anos todos, muitos me assustam não os conhecia, não sei como lidar, peço ajuda, peço orientação. Não tenho vergonha em admitir fraquezas não consigo e pronto, ou eu consigo sim, não tenho esse orgulho desnecessário. É uma grande dádiva me sentir humana novamente e não um bicho acuado com medo e ódio de tudo.
Me acho até bonita hoje..rs, minha auto estima volta, ou melhor, começo a conhecer ela agora . Respeito o meu corpo, aceito que tenho que mudar e mudo aos poucos dentro do que vou compreendendo, essa aceitação é o que me leva a recuperação. 
Não sou responsável pela minha doença, mas sou responsável pela minha recuperação.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Desintoxicação de comportamento

Uma das características do adicto é o vicio de comportamento e eu tinha muitos a serem mudados (ainda tenho, vou me percebendo e aos poucos mudando).
Mas a principio:
Voltar a acredita em Deus, ter fé. Acreditar que um Poder Superior maior que eu, maior que as drogas, está ao meu lado e ele é bom ( porque tenho uma visão de um Deus que pune, castiga, onde tudo é pecado, aos poucos volto a ver que Deus é amor. E amor é bom).

Não foi fácil reaprender a viver, a fazer coisas simples:
Reaprender a andar na rua:
Quando eu sai limpa pela rua, não para ir atrás de droga, eu não conseguia andar direito, meu corpo parecia travado, eu havia esquecido como eram meus passos, era difícil o simples ato de andar lúcida, sem a tensão de usar droga ou de estar drogada. Eu havia esquecido como é o horizonte. Um outro mundo existia!
Reaprender a conversar:
Conversar com as pessoas, mesmo que fosse do comércio, ou vizinhos, olhar nos olhos das pessoas e eu mesma ouvir minha voz e perceber que sou capaz de entender as pessoas de sentir de dar opiniões, sugestões e pensar porque mesmo que eu tinha medo de seres humanos..rs e poder rir. Não imaginam há quando tempo eu não ria. Rir de verdade, não por aparência. Rir sem ter crise de tosse, porque o pulmão não agüentava mais.
Parar de tremer:
Não ter que esconder as mãos porque eu não parava de tremer, não tremo mais.
Reaprender a comer:
Me alimentar; a alimentação era algo complicado pra mim, quantas vezes eu estava com fome e eu começava comer e vinha a vontade de usar, esquecia a comida e ia usar, agora não, eu sinto fome, eu como por prazer, não porque “há me lembrei que não comi nada esses dias”, não peso mais 43, 46 quilos, peso 51 (sendo que tenho 1,52 de altura, esses 2 cm são importantes..rs).
O mais importante dormir e acordar:
A primeira noite depois dos 3 primeiros meses que pra mim foram os mais difíceis, quando eu consegui dormir, sem ter que usar droga pra isso, e acordar como qualquer ser humano acorda, dessa forma normal abrindo os olhos e tudo o mais..rs e não pelo meu corpo me acordando pedindo droga. Isso foi maravilhoso!
Tudo isso e outros detalhes mais, podem parecer pouco, mas pra mim não é.

E isso que a droga fez. Me tornou um ser a parte, alguém que tinha esquecido como é bom as coisas simples, como é prazeroso poder viver as pequenas coisas.
A droga só não destruiu totalmente meus sentimentos, porque sempre fui muito sensível. Mas muitos adictos não sentem nada e cometem violência consigo mesmo e com o próximo.
Afinal esquecemos quem somos ou muitas vezes nem sabemos.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Desintoxicação física

Os primeiros meses não foram nada fáceis. Tem que ter muita força de vontade, muita!
Porque acordar com aquela maldita dor na barriga e sentir essa dor ir espalhando pelo corpo todo, numa mistura de câimbra é cólica, a ponto de me dobrar na cama, e só conseguir sair dela, me arrastando pelo chão, ajoelhada, parecendo bicho, chorando, pra ir ao banheiro, com diarréia e vômito e ficar assim por minutos que parecem uma eternidade, até finalmente ir sentindo aos poucos o corpo relaxando, é um outro inferno!
Isso se repetiu por muitos dias seguidos. Não é fácil!
Fiquei com gripe por 3 meses consecutivos, meu organismo estava com a imunidade no mínimo louca, porque é impressionante como fiquei doente assim que parei de usar droga. E eu sabia que era só fumar um baseado, ou cheirar que tudo isso sumiria! Da vontade, muita vontade! Mas não, não quero, não quero. Chorava, rezava e pedia ajuda.
Ajuda! A forma de ajuda que encontrei foi ligar pra pessoas que estavam limpas e elas conversarem comigo, falando como elas tinham feito pra superar esses momentos, lendo as literaturas especifica pra esses momentos, conversar com quantas pessoas do grupo fosse possível conversar. E ir a reuniões de preferência todos os dias. E rezar
É tudo sugerido dentro de um ambiente como esse. Quem criou sabia muito bem como somos, se mandar não fazemos, mas aceitamos sugestões. Não sou uma das pessoas mais fáceis de lidar (por tudo que leram aqui) em contrapartida, admito todas as minhas fraquezas sem o menor medo ou orgulho e preciso de ajuda, sozinha, não consigo. E não tenho medo da verdade.
Eu aceitei, se era assim que funcionava pra eles, então seria pra mim também, eu ia a reuniões, passava mal durante a reunião, todos entendiam, todos já haviam passado pela mesma coisa, chorava, acalmava e saia de lá mais aliviada, acreditando que um Poder Maior que eu pudesse me devolver a vida que há muitos anos não tinha mais.

NOTA: muitos que começam esse processo de desintoxicação e se firmam nesse propósito precisam de calmantes pra tomar pra poder suportar esses sintomas. Outros não suportam e voltam ao uso.
Eu optei por não tomar calmantes. Eu não voltei. Consegui, Viva eu sou forte!!..rs.