Me deu vontade de gritar ao mundo, toda a minha experiência com drogas, ao absurdo que essa escolha me levou. Não vou poupar palavras, palavrões, sentimentos, nenhum deles, todos seram ditos sem a menor maquiagem, afinal se não poupei minha vida, não será agora que vou medir palavras.

Tudo que ler é a mais pura verdade, como vivo agora e muitos momentos de meus diários, escrevi tudo esses anos todos. Não vou citar nomes verdadeiros, nem o meu, muito menos os daqueles que comigo dividiram esses 26 de vida no uso ativo de drogas. As informações que eu omitir será apenas para evitar que invadam minha privacidade, minha vida no momento.

Não sei que ordem vou dar a cada postagem, não sei se vou seguir ordem cronólogica. Vai assim do jeito que eu sentir vontade de contar. (Desculpem, se na forma de redigir contém erros seja eles quais forem eu sei que é agradável aos olhos ler algo sem erros, mas como não sou escritora e estou mais atenta aos sentimentos, é bem provável que vá acontecer mas vou tentar me policiar).

Caso queiram entrar em contato, para dúvidas, perguntas, alguma curiosidade - email:
existenciaativa@hotmail.com

sábado, 18 de dezembro de 2010

Eu admito: sou impotente perante as drogas.

Não adiantava mais tentar lutar eu havia perdido pras drogas... há muitos anos mas, agora por não suportar mais me sentir um lixo em todos os sentidos e precisar admitir isso, me olhar e dizer, acabou, vc perdeu, se tornou tudo aquilo que nunca imaginou que seria, que mulher é vc, quem é vc?, uma fraca que foge da vida o tempo todo? Chega de fugir, chega de achar que isso é o único meio liberdade. Era hora de reconhecer que o que tenho é mais grave É UMA DOENÇA. Estava na hora de encarar minha realidade, de olhar no espelho. Com muito medo do desconhecido, mas queria ao menos tentar, pela minha filha sim, mas por mim acima de tudo e todos.

EU QUIS era a minha hora, O MEU QUERER, eu não agüentava mais a vida que eu tinha, eu não agüentava mais fingir ser uma coisa e ser outra, eu não agüentava mais chorar sozinha. Nesse momento esqueci o “amor” pela droga e resolvi pensar em mim, e não adianta família, amigos, amores, não há sentimento vindo dos outros que nos sensibilize o suficiente para podermos parar, desde que nos mesmos não queiramos parar, não há (o sentimento pela droga é maior, a vontade de usar mais uma e só mais uma é maior).
Mas nesse momento meu querer era literalmente meu poder.
Não me sentia a vontade de ir a um lugar desses, (alguém havia me dito que ir a NA era “fim de carreira”, foi o meu recomeço de vida!) fui, eu não tinha outra opção e além do mais não tinha mais nada a perder, mesmo.

Quando cheguei naquela sala, aos poucos fui ouvindo, sentindo (conjugo o verbo sentir) o que aquelas pessoas falavam era como se fosse de mim. Vidas diferentes, mesmo sofrimento. Caminhos menos ou mais tristes, mas a mesma dificuldade e estavam limpos há meses, anos, como conseguiam? Apenas indo às reuniões?!
Me sugeriram não usar droga só por hoje, ir no máximo de reuniões possíveis, foi me dado o número de telefone de todos que estavam lá. O programa é simples, mas é milagroso!
Eu falei um pouco da minha historia e ninguém se espantou ninguém me julgou ninguém me criticou ao contrário recebi muitos abraços (como eu estava precisando disso) e palavras como: você não está mais sozinha, se quiser parar de usar drogas, seu problema agora é nosso também.
No final de 2 horas eu chamei uma das pessoas que estavam lá, falei que estava com droga, disse que queria jogar fora, pedi pra essa pessoa ir comigo ao banheiro, abri as embalagens que estavam comigo e joguei no vaso (lugar certo) algumas gramas que ainda tinha comigo e ali ficou o ultimo dinheiro que gastei com droga, ali ficou uma vida toda de uma drogada, ali ficou minha insanidade.
Dei o meu primeiro passo!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Eu não agüento mais!! Tentei sozinha e descobri que sozinha não consigo.

Pela primeira vez de verdade, admiti por completo que eram as drogas, que eu não podia mais usar drogas, me doía a idéia de não poder usar mais. Mas ou era isso ou psiquiatria. Eu tinha que parar e nos últimos 6 meses de uso, eu tentei parar sozinha ficava 3, 10, 15 dias sem usar e recaia. Mas recaia chorando, porque já não tinha mais a mesma “graça” que teve um dia, a maconha se no começo era algo que me deixava alegre, calma, rindo a toa e com fome. No ponto que eu cheguei, já não sentia mais nada disso, fumava, ficava agitada, séria, coração acelerado, triste, irritada, não tinha mais a famosa ”larica” (fome), ao contrário não queria comer, nem os olhos ficavam mais vermelhos é o outro lado da moeda com a maconha (é só observar quem fuma por muitos anos).
Boa parte dos usuários de maconha fica esquizofrênica e eu sabia que se continuasse ia ficar. Minhas atitudes e idéias não erma mais de uma pessoa normal.
No começo de 2008 eu ainda fumava maconha mas, era um pesadelo com as drogas sem as drogas, minha vida tinha se tornado algo que eu não sabia como era pior ou melhor, tanto fazia era tudo uma merda mesmo.
Mesmo depois de convulsão, overdose, psiquiatria eu ainda usava droga!
Eu precisava parar, não dava mais e nesse momento eu queria muito, muito ficar internada numa clínica pra poder me desintoxicar, mas eu não podia afinal meus pais e minha filha não sabiam, não dava, é eu também não teria dinheiro pra isso, inviável.
Continuei na tentativa de parar sozinha, parava, recaia, sofria, parava, recaia.
Chega!! Preciso de ajuda.
Era hora de lembrar que Deus existe de rezar e pedir uma luz, pelo amor a minha vida.
Não agüentava mais usar droga. Não agüentava mais a minha vida, não agüentava mais nada.
Ainda não admitia que queria, mas sabia que precisava! 
No dia 19 de março de 2008, eu havia como sempre fumado desde cedo, quando foi lá pelas 3 da tarde, usei pela ultima vez, às cinco horas eu queria de novo. Mas não! Eu sabia como funcionava, era sempre o mesmo ciclo vicioso, um circulo restrito e insano, onde eu usava droga na esperança de sentir algo diferente, eu usava buscando aquela primeira sensação de prazer e ela nunca vinha, repetir o mesmo gesto buscando resposta diferente: insanidade.
Chamei minha irmã mais uma vez e disse eu vou ligar pra algum lugar, pro Alcoólatras Anônimos quem sabe eles não me ajudam? Peguei as páginas amarelas, procurei o telefone, liguei, expliquei meu problema eles me disseram que seu quisesse ir lá, seria bem recebida, mas já que meu problema não era com álcool ele me passou o telefone do Narcóticos Anônimos. Liguei falei com uma mulher, contei meu desespero ela me perguntou onde morava eu disse, ela falou ai perto da tua casa no dia de hoje tem uma reunião, você não quer ir? Quero sim, mas será que eles podem me ajudar? Ela me disse o miníno que pode acontecer e você ficar lá por duas horas sem usar, o restante é com você.  Ta bom era comigo.
Eu vi uma esperança nessa ligação, fiquei ansiosa, mas dessa vez de esperança. Eram cinco horas da tarde, pensei não uso mais nada hoje, a reunião começa às 8 horas, era tempo suficiente pra eu chegar lá sem estar drogada, lúcida ao menos.
Peguei o restante das drogas que tinha em casa, coloquei a maconha num saco de geladinho, um pouco de cocaína que tinha no outro e sai de casa 7 horas com essas drogas escondida na roupa, sozinha, peguei ônibus e fui pensando meu Deus, tomara que esse lugar me ajude, porque senão, não sei o que fazer. E um outro pensamento se for algo bom, jogo essas drogas , se não for, saio usando de lá mesmo.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Instituição Psiquiátrica: Meu fim do poço!!

Quanto mais eu me via perdida em sentimentos, mais raiva eu ia criando dentro de mim, eu comecei a ficar com medo dos meus atos, comecei a ficar com medo de cometer alguma violência, por exemplo. Tentava sozinha encontrar algum meio de sair de onde eu havia chegado. Eu não sabia mais como havia chegado até aqui, mas queria mudar, queria sair (de preferência fumando maconha). Mas comecei a perceber de verdade que isso não era possível quando tive minha primeira crise nervosa. Eu vivia irritada, brigando por tudo, brigava com os meus e comigo mesma, eu estava ficando totalmente insana.
Num desses dias tive uma discussão com meu pai, nada demais coisa de família, mais eu senti um ódio tão grande, que não me reconheci comecei a xingar meu pai (imagina, coisa que jamais fiz na minha vida !) e se não tivessem me segurado eu seria capaz de bater no meu pai ( que absurdo isso,  que Deus me perdoe ). Nesse momento eu falei pra minha irmã eu não estou bem, eu preciso de ajuda, eu estou completamente doente; não sabia se era físico, emocional, psicológico, espiritual só sabia que tinha perdido meu controle.
Fui fazer terapia mais uma vez, dolorida, sofrendo e dessa vez falei do meu uso de droga, não a verdade por completo, mas admiti pra outro ser humano (não adicto) que era usuária de drogas, ela me ajudou, foi o começo. Mas eu ainda acreditava que eu era capaz de deixar de usar droga sozinha.
Eu vivia perdida em mim mesma, só eu e mais eu. Cheguei ao ponto de não me agüentar mais, cansada de tanto pensar e pensar e falar sozinha. Criando neuroses, teve uma delas em especifico que me perturbou demais (ainda não gosto de lembrar, na verdade as vezes ainda me perturba, coisa pra divã ), eu comecei a sentir nojo de certas coisas, eu falava pra minha irmã e ela não via lógica, ela tentava me dizer que não tinha nada demais, mas aquela cena ficava na minha cabeça eu não conseguia parar de pensar por mais que tentasse, ficava dias naquela confusão, com aquela imagem e idéia fixa! Pedindo a Deus que tirasse aquele pensamento da minha cabeça, mas não conseguia. Chorava sentia agonia, verdadeiro asco!
Num desses momentos de pensamento fixo, fiquei tão mal, chorando, nervosa, com medo e ódio dessas idéias fixas, que estava de novo numa psiquiatra. Contei ao médico o que estava sentindo, a primeira coisa que fiz quando cheguei no consultório, foi entortar todos os clipes que estavam na mesa . Eu falei “brincando”, doutor to ficando neurótica com esse pensamento fixo, ele me disse: sim, são sintomas de neurose. Não queria ouvir isso, mas era verdade.
A droga havia me destruído. Estava tirando minha sanidade.
Tive mais duas crises de TAG (transtorno de ansiedade generalizado).
Na ultima fui parar de novo no hospital psiquiátrico, me sedaram e dessa vez iam me deixar internada, quando eu acordei e vi aquelas pessoas a minha volta e percebi onde estava, aquela cena que eu via em filmes e que eu ia ficar ali me senti num pesadelo. Gritei a enfermeira e me tira daqui, pelo amor de Deus me tira daqui (e ao mesmo tempo pensava não posso gritar, não posso perder o controle senão eles não me deixam sair mesmo, se controla, se controla).
Implorei que chamassem minha irmã, eu chorava feito criança, falava eu não estou louca eu estou doente, mas louca não, eu não vou ficar aqui!! Falei pra minha irmã se responsabiliza por mim, assina qualquer coisa, mas me tira daqui. Ela me tirou sai no mesmo dia.
Voltei pra casa cheia de “tarja preta”, tomei esses remédios por um mês, falei pro medico não vou ficar tomando isso eu sou adicta eu vou usar isso pro meu mal e não quis me recusei a continuar me entupindo de mais drogas.
Depois desse momento, não dava mais, não dava.
Esse foi meu fundo de poço: instituição psiquiátrica (hospício) esse foi meu inferno completo, ficar louca não. Não mesmo!