Eu não saia mais, só em caso de extrema necessidade, fosse pra levar minha filha ao médico, ir a reunião de escola ou ir ao banco pagar as contas uma vez por mês, ficava apavorada de imaginar que teria que ir pra rua, encontrar pessoas não estar drogada ou até mesmo estar drogada, isso me apavorava, tinha taquicardia, dias antes só
Já era previsto, afinal sempre fui a: “eu posso, eu resolvo, eu me viro, eu sei” a falsa auto suficiente, se eu disser que fui fraca seria mentira, mas não era aquela imagem que eu passava (é o pior as pessoas acreditavam que eu era forte) estava sendo hipócrita, como eles não percebiam! Que raiva. As pessoas só enxergam a si mesmas e com pensamentos assim ia me afastando, eu queria ajuda, necessitava, mas não via ninguém como nunca vi que pudesse me ajudar efetivamente, a principio raiva da humanidade, desprezo, medo e fobia. Não queria mais saber de ninguém, dane-se eu mesma me viro! Afinal já passei por tanta coisa sozinha.
Eu estava isolada é uma das coisas que fazemos quando chega ao ponto que eu cheguei: isolamento.
Tinha momentos que eu ficava desesperada dentro de casa eu ia andar, andava sozinha pelo bairro, andava até cansar, não falava com ninguém chegava em casa falava sozinha, falava até cansar, xingava, brigava, Brigava com Deus; eu mesma dizia eu mesma respondia e eu claro sempre tinha razão, comecei a sentir os primeiros sinais de insanidade.
Chorava, xingava, blasfemava, reclamava e se alguém, fosse da minha família ou dos pouquíssimos amigos que me restaram, aparecessem, eu dizia que estava “tudo bem, eu to bem”, mentira eu estava muito triste, um lixo de ser humano.
Bem se eu havia escapado da morte, de prisão porque nunca quis me relacionar com o mundo do crime. Da terceira que era uma instituição psiquiátrica eu estava bem próxima, e cá entre nós se tem algo que sempre me apavorou é a loucura (não a loucura das drogas, convenhamos), não importa em qual de suas tantas formas, mas a idéia de ficar louca me apavorava, muito!
Muitas vezes no decorrer desses anos todo eu tive medo de uma dose a mais me tirar a sanidade, eu tive medo de enlouquecer e nesse momento da minha vida era algo que começava a ficar palpável.
Nós 2 últimos anos de uso, eu comecei pela primeira vez a enxergar que poderia ser a droga que estava me deixando assim, acreditem, somente depois de 24 anos de sofrimento, foi que eu comecei a admitir a possibilidade disso.
Porque a minha vida era de uma pobreza de espírito sem tamanho, um vazio, um tédio constante, vivia tendo crises de tontura (menier), vivia a base de remédios.
Mas nunca deixei de usar droga. Acordava minha filha para ir à escola pela manha (como ainda faço), esperava ela sair e fumava, dormia mais um pouco, “meu corpo me acordava” eu usava de novo e assim se resumia meus dias, meses, anos, minha vida.
Relacionamentos... tive, afinal sou compulsiva não somente por drogas, mas quando se vive numa vida dessas, não se procura alguém que “presta”, não há sentimento, procura os iguais, e só para usar mesmo! Auto-estima abaixo do pé. Nenhum valor sentimental e o mais triste nenhum sonho. Eu não tinha mais sonhos, não esperava mais nada. Eu não me olhava mais no espelho.