Me deu vontade de gritar ao mundo, toda a minha experiência com drogas, ao absurdo que essa escolha me levou. Não vou poupar palavras, palavrões, sentimentos, nenhum deles, todos seram ditos sem a menor maquiagem, afinal se não poupei minha vida, não será agora que vou medir palavras.

Tudo que ler é a mais pura verdade, como vivo agora e muitos momentos de meus diários, escrevi tudo esses anos todos. Não vou citar nomes verdadeiros, nem o meu, muito menos os daqueles que comigo dividiram esses 26 de vida no uso ativo de drogas. As informações que eu omitir será apenas para evitar que invadam minha privacidade, minha vida no momento.

Não sei que ordem vou dar a cada postagem, não sei se vou seguir ordem cronólogica. Vai assim do jeito que eu sentir vontade de contar. (Desculpem, se na forma de redigir contém erros seja eles quais forem eu sei que é agradável aos olhos ler algo sem erros, mas como não sou escritora e estou mais atenta aos sentimentos, é bem provável que vá acontecer mas vou tentar me policiar).

Caso queiram entrar em contato, para dúvidas, perguntas, alguma curiosidade - email:
existenciaativa@hotmail.com

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Pago o que eu chamo de “Carne dos Adictos”

Difícil saber o que a droga não alterou em mim
Ainda tomo fenobarbital todas as noites, tenho acompanhamento médico anual sempre os mesmos exames, nada novo está tudo bem, nunca mais tive convulsão, peço a Deus nunca mais ter.
Tomo um remédio chamado betaserc, também todas as noites pra controlar minhas tonturas e esse maldito zumbido, quando tenho crises tomo dramim, ameniza, ainda não consegui um controle razoável (na verdade preciso de um otorrino que dê devida atenção a essa minha doença). Sofro demais com ela.
Nunca mais trabalhei, faz 16 anos que não volto ao mercado de trabalho, por causa das drogas e agora em especifico pela síndrome, quando tenho crises fico uns 3 dias meia “vegetal” isso me deixa mal, me sinto inútil e gostaria muito de voltar a trabalhar, muito, me sentir útil em todos os sentidos. Mas qual empregador vai aceitar alguém assim! Não sei!
Não sei se porque no passado fugi muito da realidade, hoje tenho dificuldade em ter sentimentos mais intensos, de olhar pra algo e dizer: nossa gostei muito disso!. Gosto mas nem tanto. Quero, mas nem tanto. Aceito mas nem tanto..rs .Relacionamentos sérios está incluído aqui. A idéia de ficar sozinha não me assusta em nada.

Para não esquecer compromissos tenho que anotar, falo pra minha irmã, minha filha, a família inteira se preciso for, tenho dificuldades de memorizar. Aprendi muita coisa boa, li muitos livros, mas nem me perguntem nomes, sou incapaz de lembrar. Sempre digo que não tenho memória, mas sim uma vaga lembrança..rs
No meu perfil quando disse que “não estou procurando criticas, conselhos ou julgamentos, sou conhecedora da causa que escrevo, não há teoria.” Agora posso explicar isso: passei tantos anos me sabotando, me menosprezando, me inferiorizando,
que qualquer forma de critica não me era bem vinda, porque consciente ou não eu mesma já as fazia. Ainda não as aceito, quando se referem a essa parte da minha história já foi escrita, já esta feita, não há como mudar e ponto. Mas aceito de bom grato, sugestões no momento, no mundo que agora vivo na verdade preciso de ajuda e aceito sugestões construtivas.
Tenho dificuldades em lidar com meus sentimentos, entre o que quero é o eu realmente posso fazer, há muitos lugares que estão no meu “evite”.
Porque tenho uma natureza rebelde, aventureira e um gosto pelo que é proibido.
Não sou diferente de muitos, mas também não sou igual a todos. Sou inteligente, um tanto sequelada, mas sou..rs. Mas acredito que meu aprendizado maior está na sabedoria de vida.
Tenho dificuldades em tomar atitudes, o comodismo me parece mais fácil e principalmente em ter disciplina. Mas sei que esse comportamento é enganoso e algo que estou trabalhando.
Ninguém vive uma vida dessas que vivi é sai ileso, não há como mas, o tempo dirá o que será meu melhor, porque agora tento ao menos fazer o melhor, o bem, o simples.
E hoje tenho discernimento para isso.
Cansei de transparecer falsa impressão a meu respeito, sobre minha vida e os outros acreditarem.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Meu comportamento compulsivo e obsessivo

No decorrer desses anos todos de uso, houve momentos que eu achava que preenchia totalmente as minhas compulsões, só para descobrir no momento seguinte que NÃO havia maneira de me satisfazer, não há; quanto mais tenho mais quero (falo da doença da adicção). Parte do meu padrão era que nunca podia ou conseguia satisfação suficiente.
Tudo isso pra preencher um enorme vazio, acima de tudo espiritual, não vou discutir religião, mas eu, esse ser humano aqui, preciso de fé, preciso crer que um Deus olha por mim, e que Ele só Ele esta preenchendo esse vazio que existia dentro de mim, esse vazio que estava plantado na minha alma. Não me importo com religião, não faço questão de instituições (apesar de ser católica). Gosto da fé, da crença, também não somente ela porque não gosto de fanatismo. No meu ver tanto a ciência quanto a religião me preenchem, cada uma em momentos distintos.
Também não vou discutir filosofia, não tenho paciência pra tanto, esse porque do porque me cansa absurdamente..rs. Isso é explicável, na minha vida passei anos e anos procurando respostas, fazendo perguntas (sei que estava no lugar errado), mas mesmo assim, me cansei de tanto pensar e ler e procurar resposta em lugares errados e principalmente nas minhas atitudes erradas, por isso me canso psicologicamente, de fato.
Pode parecer estranho, mas me sinto adolescente, apesar de toda minha vivência, de tanta dor, não amadureci como uma pessoa normal, nenhum adicto é maduro, não passamos por esse processo que todos passam, ficamos anestesiados no tempo, nós anestesiamos tanto nossas vidas, que paramos na fase da rebeldia. Não sei se isso pode ser justificativa pra alguma coisa mas é fato.

Como me controlo...me contrariando: tenho vontade de usar droga e alimentar minhas compulsões, mas são bem poucas hoje em dia e quando elas aparecem não dou confiança, mudo o foco procuro falar com alguém que entenda meu momento, evito falar de nomes de drogas, de lembrar as loucuras do passado, de recordar sensações e assim vou seguindo, nada se compara ao bem estar de estar limpo, usar droga dá muito trabalho e mais fácil ficar livre, sair da cadeia que por tantos anos fiquei  e admitir que do meu jeito não da mais.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Hoje faz exatamente 1 ano 10 meses e 14 dias que não uso drogas.

Não foi fácil recomeçar nada fácil e ninguém disse que seria, tive crises de abstinência de enlouquecer, mas não fui atrás de droga agora eu não estou mais sozinha, conheci pessoas com o mesmo problema pessoas que não me julgariam por nada porque viveram a mesma realidade que a minha, pessoas que não iriam me dizer que: usa quem quer, que segue esse caminho por falta de caráter, porque é fraca, que escolhemos isso. Se fosse escolha não seria uma doença, se fosse escolha o mundo não estaria como está com adictos aos montes perdidos a cada esquina. A primeira vez que se usa pode ser escolha sim ( por curiosidade, influência) e alguns não se incomodam, experimentam e saem ilesos independente de família, situação financeira, etc. Outros passam pela mesma experiência e são tomados como foi meu caso e chegam onde cheguei, porque ficam doentes. É uma mórbida paixão a primeira vista.

Estou entre os meus iguais me tratam como eu sou, uma pessoa que possui uma doença (é muito importante admitir isso) uma doença compulsiva, chamada adicção que é incurável, progressiva e fatal.
Não sou uma fraca que entrou nessa porque quis ou vou usar muita droga vou ter uma convulsão, overdose , quase perder a sanidade parar numa psiquiatria, vou ficar com seqüelas, só ai eu vou parar”  porque foi isso que a droga me deu de presente.
Eu dizia que eu nunca me viciaria comigo não! Eu tenho controle sobre as dorgas,quando quiser eu paro!  Mentira. A droga é muito pior do que qualquer um pode imaginar, principalmente para nós usuários.
Se nunca parei antes foi porque não conseguia, não enxergava, não admitia o vício, fui tomada por uma cegueira que não consigo explicar.

Fiz o que me foi sugerido, segui o exemplo de quem é vencedor dentro do grupo, às vezes tive crise na sala durante a reunião, em casa, achava que não iria agüentar, mas passava alguns minutos e passava.
E os dias foram se passando e eu continuo limpa, porque meu desejo de ficar limpa prevaleceu. E eu tive apoio de iguais, isso foi importantíssimo!
Faço minha contagem de tempo pq as vezes perco toalmente a noção dele quando sinto vontade de usar e quando acho que um dia é muito, penso que 5 minutos são possiveis e mais 5 minutos e assim vai.
Tenho muito medo de voltar ao mundo das drogas, mas estou com planos novos, vida nova em todos os sentidos. Sem muita atitude ainda, mas tenho sonhos novamente.
Se começo a ficar muito só pensando muito ligo pra alguém, pois, sou a minha pior companhia e sei que meu isolamento é o núcleo da doença. Assim como a euforia, equilibrio é a palavra necessária. E esse só consigo me percebendo, tomando atitudes, me contrariando, fazendo o oposto do que sempre fiz.
So por hoje:
Concentro meus pensamentos na minha recuperação.
Acredito que alguém crê em mim e quer me ajudar na minha recuperação.
Tenho um programa a ser seguido e tento fazer da melhor forma possível.
Não sentirei medo, euforia ou raiva, penso nas pessoas que comigo dividem essa batalha e encontro essa nova maneira de viver.
Enquanto eu seguir o que me é sugerido, não terei nada a temer.
Entrego minha vida nas mãos de um Poder Superior.
Mas, isso tudo e muito mais e só por hoje..rs