Me deu vontade de gritar ao mundo, toda a minha experiência com drogas, ao absurdo que essa escolha me levou. Não vou poupar palavras, palavrões, sentimentos, nenhum deles, todos seram ditos sem a menor maquiagem, afinal se não poupei minha vida, não será agora que vou medir palavras.

Tudo que ler é a mais pura verdade, como vivo agora e muitos momentos de meus diários, escrevi tudo esses anos todos. Não vou citar nomes verdadeiros, nem o meu, muito menos os daqueles que comigo dividiram esses 26 de vida no uso ativo de drogas. As informações que eu omitir será apenas para evitar que invadam minha privacidade, minha vida no momento.

Não sei que ordem vou dar a cada postagem, não sei se vou seguir ordem cronólogica. Vai assim do jeito que eu sentir vontade de contar. (Desculpem, se na forma de redigir contém erros seja eles quais forem eu sei que é agradável aos olhos ler algo sem erros, mas como não sou escritora e estou mais atenta aos sentimentos, é bem provável que vá acontecer mas vou tentar me policiar).

Caso queiram entrar em contato, para dúvidas, perguntas, alguma curiosidade - email:
existenciaativa@hotmail.com

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Vida vazia, angústia!

Nesses últimos quatro anos de uso de drogas minha vida pode ser resumida em: Angústia: eu, esse ser humano aqui, estava cada vez mais perdida. Não conseguia trabalhar mais, pois além do consumo de droga eu vivia com tonturas, que não eram as tonturas da reação das drogas. Descobri que estava com Sindrome de Menier (uma doença que tem origem no labirinto, que causa muita tontura, enjôo, perda de noção de espaço, zumbido no ouvido e gradativa queda de audição) e com um monte de doenças psicossomáticas acumuladas e mal curadas no decorrer desses anos todos e outras chegando.
Eu não saia mais, só em caso de extrema necessidade, fosse pra levar minha filha ao médico, ir a reunião de escola ou ir ao banco pagar as contas uma vez por mês, ficava apavorada de imaginar que teria que ir pra rua, encontrar pessoas não estar drogada ou até mesmo estar drogada, isso me apavorava, tinha taquicardia, dias antes só em pensar. Veio a fobia social.
Já era previsto, afinal sempre fui a: “eu posso, eu resolvo, eu me viro, eu sei” a falsa auto suficiente, se eu disser que fui fraca seria mentira, mas não era aquela imagem que eu passava (é o pior as pessoas acreditavam que eu era forte) estava sendo hipócrita, como eles não percebiam! Que raiva. As pessoas só enxergam a si mesmas e com pensamentos assim ia me afastando, eu queria ajuda, necessitava, mas não via ninguém como nunca vi que pudesse me ajudar efetivamente, a principio raiva da humanidade, desprezo, medo e fobia. Não queria mais saber de ninguém, dane-se eu mesma me viro! Afinal já passei por tanta coisa sozinha.
Eu estava isolada é uma das coisas que fazemos quando chega ao ponto que eu cheguei: isolamento.
Tinha momentos que eu ficava desesperada dentro de casa eu ia andar, andava sozinha pelo bairro, andava até cansar, não falava com ninguém chegava em casa falava sozinha, falava até cansar, xingava, brigava, Brigava com Deus; eu mesma dizia eu mesma respondia e eu claro sempre tinha razão, comecei a sentir os primeiros sinais de insanidade.
Chorava, xingava, blasfemava, reclamava e se alguém, fosse da minha família ou dos pouquíssimos amigos que me restaram, aparecessem, eu dizia que estava “tudo bem, eu to bem”, mentira eu estava muito triste, um lixo de ser humano.
Bem se eu havia escapado da morte, de prisão porque nunca quis me relacionar com o mundo do crime. Da terceira que era uma instituição psiquiátrica eu estava bem próxima, e cá entre nós se tem algo que sempre me apavorou é a loucura (não a loucura das drogas, convenhamos), não importa em qual de suas tantas formas, mas a idéia de ficar louca me apavorava, muito!
Muitas vezes no decorrer desses anos todo eu tive medo de uma dose a mais me tirar a sanidade, eu tive medo de enlouquecer e nesse momento da minha vida era algo que começava a ficar palpável.
Nós 2 últimos anos de uso, eu comecei pela primeira vez a enxergar que poderia ser a droga que estava me deixando assim, acreditem, somente depois de 24 anos de sofrimento, foi que eu comecei a admitir a possibilidade disso. 
Porque a minha vida era de uma pobreza de espírito sem tamanho, um vazio, um tédio constante, vivia tendo crises de tontura (menier), vivia a base de remédios.
Mas nunca deixei de usar droga. Acordava minha filha para ir à escola pela manha (como ainda faço), esperava ela sair e fumava, dormia mais um pouco, “meu corpo me acordava” eu usava de novo e assim se resumia meus dias, meses, anos, minha vida.
Relacionamentos... tive, afinal sou compulsiva não somente por drogas, mas quando se vive numa vida dessas, não se procura alguém que “presta”, não há sentimento, procura os iguais, e só para usar mesmo! Auto-estima abaixo do pé. Nenhum valor sentimental e o mais triste nenhum sonho. Eu não tinha mais sonhos, não esperava mais nada. Eu não me olhava mais no espelho.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Mais uma vez droga! Substituição foi naquele momento a única saída.

Não é fácil tirar uma droga química do organismo, na verdade droga nenhuma. Ainda mais sozinha!
Eu não podia contar com a ajuda de ninguém da minha família, a não ser minha irmã, mas ela não sabia como lidar com a situação, nem eu sabia. A única coisa que eu sabia era que precisava parar de usar cocaína, da mesma forma que há muitos atrás havia parado com a droga alcoólica e nunca mais bebi nada que contenha álcool, eu precisava agora parar e teria que ser sozinha.
Como um adicto sozinho é sempre má companhia. Fiz a única coisa que estava ao meu alcance a que me pareceu menos mal no momento: substituir uma droga pela outra. A cocaína que era mais forte pela maconha algo mais leve.
Uma semana após a overdose estava em casa e louca, cega de vontade de usar, não conseguia pensar em outra coisa. Meu corpo não deixava, minha cabeça não deixava.

Acordei com crise de abstinência é algo assim: eu era literalmente acordada pelo meu corpo pedindo droga, uma dor em volta do umbigo, que é uma mistura de cólica, dor e ansiedade, é algo estranho, a adrenalina fica acelerada, suor, secura na garganta e ao mesmo tempo boca salivando e não da pra pensar em outra coisa, é como uma contração de minutos em minutos, todos os sintomas de novo e de novo da abstinência e eu precisava de droga ou sentia que morreria no instante seguinte, de tanto tremer!!
Cocaína não dava mais, fiquei mais uma vez com medo. Sai de casa cedo, fui na primeira biqueira (ponto de venda de drogas) que encontrei  e comprei uma paranga (nome dado a porção de maconha), cheguei em casa tremendo me tranquei no banheiro, preparei e fumei, alivio! A dor sumia, o corpo todo agradecia, eu relaxava finalmente. Três horas depois a mesma crise de novo, porque a droga que eu usava era mais forte, e eu fumava de novo. No primeiro mês eu tive abstinência constante. Fumei em torno de umas 6, 8 vezes por dia, até meu organismo se acostumar com a nova droga que se tornou minha amiga inseparável, sempre foi, foi a primeira e também seria a última.
Foi dessa forma insana que eu consegui parar com a cocaína, sozinha. Mas não com as drogas.
Nesse momento eu até me senti melhor porque a reação da maconha ao contrário da cocaína e mais calma, dá sono, fome e nos dois anos seguintes eu fumei sem maiores problemas, com as drogas.
Mas eu, meu corpo, sentimentos e pensamentos continuávamos num conflito só.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Overdose

O meu corpo começou a cansar (o emocional já estava cansado há tempos) e quanto mais eu usava mais eu queria, não tem fim e algo doente, doente! Depois de ter usado mais um dia todo, como era de costume. A noite eu não estava bem a reação da droga estava estranha, eu peguei outra em outro lugar (porque quando eu passava mal achava que era a droga que estava misturada que não era “boa”, não porque não tinha comido quase nada o dia inteiro, ou nem lembrava se tinha tomado algum liquido, ficava tão cega que não conseguia perceber que não importava pureza ou não. É ela quem faz mal!! Mas não enxergava, por Deus não enxergava).
Voltei pra casa e usei dessa outra, me senti “melhor”, mas, não deu cinco minutos e eu comecei a sentir muita tontura, falta de ar e meu coração parecia que ia sair do peito, liguei pra minha irmã. Não to bem, fica comigo, comecei a andar pela casa, tudo rodava, lavei o rosto, tentei beber água fiquei mais sufocada ainda, comecei a perder os sentidos, ela chamou meu irmão e me levaram pro hospital.
Cheguei lá suando e tremendo, sentindo dores horríveis na barriga, pontadas na altura do peito quase sem respirar e perdendo a consciência.
O medico aos gritos comigo: que droga você tomou, o que você tomou menina? Cocaína sou viciada. ele dizia é overdose. E eu não parava de falar: não fala pros meus pais, não fala eles não podem saber; no carro eu falei com meus irmãos, conversa com os médicos, não deixem eles contarem pro pai e pra mãe ... cuida da nenê.
Só por Deus eu não tive uma outra convulsão, não tive parada cardíaca, fui atendida a tempo, fiquei até o dia seguinte.
Foi horrível é uma experiência horrível, é a verdadeira cara das drogas, esse é um dos fundos de poço, esse é um dos finais: a morte.
No dia seguinte quando recobrei a consciência e vi onde estava, onde tinha chegado, pensei que meu propósito em morrer quase tinha sido alcançado. Senti nesse momento uma saudade tão grande da minha filha e pensei meu Deus não posso deixar minha filha sozinha nesse mundo, ela já não tem o pai se ficar sem a mãe como ver ser o que vai ser dela. 
Meus pais não souberam, acharam que eu tinha tido uma convulsão, misturado com todo o quadro de depressão etc,  e ficou assim.

Eu estava com 38 anos. Totalmente perdida na minha vida. Me sentindo absolutamente só.
Sabia que precisava parar de usar cocaína, chorei muito. Mas como? O que eu iria fazer pra parar? O que?

domingo, 21 de novembro de 2010

O outro lado da moeda na reação das drogas

Seis anos após a morte do meu marido, seis anos de vida apática, de mal estar, tonturas, uso abusivo e diário de cocaína e às vezes um baseado pra poder me acalmar.
Se quando eu cheirei ou injetei cocaína pela primeira vez foi “a melhor sensação do mundo”, agora já não era mais. Agora as drogas me mostravam sua verdadeira face.
A reação da cocaína e dividida em três etapas:
Primeira:
- Na primeira meia hora eu ainda conseguia ter energia, falar nem que fosse com as paredes, fazer as coisas, achar que tudo estava bem ( no começo esse bem estar é  mais duradouro).
Segunda:
_O momento do desespero, onde a reação “boa” está acabando e eu queria, precisava cegamente de mais uma dose, se não tivesse ou já não agüentasse mais usar, era o pior momento: eu queria relaxar, mas não conseguia, eu estava muitas vezes cansada, exausta, mas meus olhos não fechavam, eu tentava deitar e “fritava” de um lado pro outro da cama. O coração disparado, a adrenalina a mil por hora, tomava banho, bebia água, tentava comer algo (coisas que esquecia completamente quanto estava chapada), pra tentar me acalmar (no começo isso não existe, se existe é muito leve).
Terceira:
_ Quando conseguia relaxar, vinha a depressão, eu sentia ódio de mais uma vez ter passado por isso e comecei a jurar pra mim mesma que iria ao menos diminuir, chorava e via que estava me afundando, mas não via saída, dormia não sem antes fumar maconha, porque sono natural já tinha há muito tempo.

 E no dia seguinte o inferno de novo: ser literalmente acordado pelo próprio organismo, “gritando” por droga era questão de 10 minutos no máximo pra eu ter esquecido todo esse processo e começar tudo de novo, mesmo chorando, mesmo tendo prometido pra mim mesma que nesse dia não usaria, a compulsão é tanta que esquecia tudo.
E assim que a doença funciona, não pense que controlamos ou até mesmo que não queremos, simplesmente não conseguimos. Não nesse momento, não antes do fim do poço.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Como ninguém percebeu que eu estava totalmente afundada nas drogas

Bem se antes sem nenhum motivo aceitável eu já conseguia esconder (lembrando que antes meu uso também era mais controlado, eu ainda trabalhava, por ex., ou estava casada), agora eu não tinha mais controle sobre o uso de drogas, eu acordava usando e dormia usando. Como fazer pra família não perceber? Foi mais fácil ainda, eu estava visivelmente destruída pela perda do meu marido, isso era fato, mas também passou a ser uma boa desculpa para meu comportamento e magreza, junto com a depressão e o pânico, evitava que eu tivesse que dar explicações do porque não saia, do porque às vezes precisa andar feito uma louca sem rumo e voltar pra casa, mais estranha e mais acabada do que quanto tinha saído. Usava todas as desculpas, eu sabia quais eram as minhas dores e em quais “gavetas” elas cabiam, mas os outros não precisavam saber. Eu passava a noite acordada e acordava 3, 4 horas da tarde, o porque eu parei por completo de ir a casa de qualquer parente e quando alguém chegava em casa eu logo inventava uma desculpa e não queria ver ninguém, qualquer coisa menos...menos culpar as drogas, sem elas eu não ficaria.
Minha filha era ainda uma criança, nem imagina o quanto eu sofria.
A minha irmã: ela foi minha única aliada nesses anos todos, ela sempre soube e acompanhou toda a minha verdade e por muitas vezes tentou me tirar das drogas, mas quando eu percebi que ela queria mesmo fazer isso eu a “convenci” que sem as drogas eu não ficava, ela percebia o quanto eu ficava aliviada quando eu usavam eu até ria!.( mas ela não gostava de ver drogada, é isso também me incomodava).
Mas foi dessa forma mesquinha de manipular de um adicto que eu a tive ao meu lado, passou a ser minha cúmplice, convencida por mim que assim eu ficava melhor e no mais eu era adulta era ainda responsável por minhas contas e tá... a vida seguia.

Anestesiar a vida com as drogas

Quando a dor pela morte foi absurda, eu aprendi que eu podia amenizar usando droga e passei a usar isso pra tudo, qualquer situação que me acontecesse e eu não tivesse habilidade pra lidar eu fugia pras drogas, esquecia, anulava. Fosse decepção com homens, com quem sabe um trabalho, com o que eu queria e não conseguia, qualquer coisa que não fosse como eu queria.
Eu criei dentro de mim um mecanismo de fuga, de forma tão eficaz que eu comecei a esquecer de tudo, tanto do bem quanto do mal, quando algo me incomodava eu ignorava, usava droga e esquecia (pra quem já tinha tido perda de memória, ficou mais fácil ainda).
Hoje ainda sofro com isso, na verdade muito porque não consigo memorizar quase nada, tenho dificuldade não para entender ou aprender, mas para lembrar de coisas simples, esse mecanismo está sempre ativo me dizendo “vem aqui é mais cômodo”, um psicólogo pode explicar isso melhor... Mas luto pra aprender e memorizar algo novo.
E luto mais ainda pra encara a vida como ela é sem fugir, sem aparecem problemas os encaro e tento resolver só assim sei que haverá um crescimento pessoal, mas pra mim é algo muito difícil, simplesmente ser normal.
O mais importante disso: eu já entendi que a dificuldade está no medo de encarar a realidade, de crescer ( vou falar disso mais adiante).

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

E agora?

O que eu iria fazer uma criança pra criar, uma casa pra cuidar com todas as responsabilidades que isso implica, eu uma total dependente de drogas, sentindo a pior das dores emocionais, me sentindo mais sozinha do que nunca em toda minha vida. Percebendo que minha saúde estava debilitada.
Meu físico, emocional e espiritual destruídos.
Os amigos aos poucos se afastaram, maioria casados cuidando de suas próprias vidas. Existe a lei da troca no mundo, se você procura é procurado senão fica só, eu não sentia mais a menor vontade de ir a lugar algum.
O que me passava na cabeça após a morte do meu marido era: eu já fiz de tudo, sei de tudo, conheço tudo, estudei, trabalhei, viajei, convivi com pessoas loucas e normais, os loucos pouco se importam com minha decadência, os normais não sabem de nada, sai com os homens que quis, realizei fantasias, sou mãe, fui a diversas religiões, li muitos livros, vivi nos dois mundos, e nada absolutamente nada me atraia, a vida daqui pra frente não vai ser novidade, só uma eterna repetição do que já fiz! Era exatamente assim que pensava, nada tem mais graça, beleza, acabou.
Eu até tentei não voltar pra drogas, mas eu odiava o mundo a vida como ela é. Eu não entendia mais como se vive sem drogas. Eu não sabia viver sem drogas.
Pensava, bem...vou viver “no automático”, continuo usando drogas, e no mais seja o que Deus quiser.
Eu muito raramente saia, é quando saia não gostava, não me identificava com nada, comecei aos poucos a me isolar “um não vou hoje, outro amanha” e foi tomando proporção. Numa postagem atrás eu disse que a minha opção de isolamento estava começando e nesse momento da vida ela foi se concretizando.
Minha filha crescendo, eu me isolando, saia somente por ela, por ela ainda tentava alguma coisa, ia a parques, levava pra passear, ela precisava ter uma vida normal, ria por ela, brincava por ela. Mas era assim eu sai por no máximo 2, 3 horas era o tempo que eu conseguia ficar sem droga. Depois disso já começa a passar a mal, tinha que usar (e não saia drogada tinha medo de deixar algo acontecer a ela).
Nesse momento o controle que eu mantive por tantos anos foi por água a baixo, a droga era quem mandava agora, e eu não me importava afinal eu não sabia viver de outra forma.
Eu não conseguia (mal consigo até hoje) lembrar como eu era antes de usar droga, não sei... essa pessoa se perdeu no passado.
Se eu já tinha tendência à depressão nesse momento ela ficou mais evidente. Se eu já tinha tendência à doença da adicção, desse momento em diante ela tomou conta por completo.
Houve momentos que eu não suportava mais procurar respostas e não via nenhum amigo, nem um ser que fosse um pouco mais complexo e vivido do que eu, que pudesse me ajudar, fui fazer terapia, mas eu não falei que usava drogas, ou seja, não ajudou em nada (isso é muito importante: eu acreditava que minha vida tinha se tornado um pesadelo por todos os acontecimentos pessoais, mas jamais culpar as drogas, elas não, elas são minha vida, como eu poderia dizer pra alguém que usava e essa pessoa dizer pra eu parar de usar, a escolha? Mandar a pessoa sumir da minha vida, ficava com as drogas).
Havia no meu caso um relacionamento afetivo com as drogas, é ate absurdo isso, mas é verdade, no decorrer desses anos todos, só vivi dessa forma, a droga me acalmava me fazia esquecer, me relaxava, era terreno que pisava e conhecia, nesse mundo eu entendia tudo, nesse mundo eu sabia viver. Mesmo consciente que eu estava viciada, não tinha a consciência de algo pior, ou melhor, tinha sim, afinal depois que meu marido morreu, eu queria morrer e esse caminho era lento, mas eu sabia que mais cedo ou mais tarde eu iria sair desse mundo Mas era a minha dor pela morte falando mais alto.
Mas não conseguimos enxergar que é cadeia, instituição ou morte o final do caminho de quem usa droga. Ainda existia a ilusão de que comigo não!

(Desse momento em diante, até eu parar de usar droga, são anos de muita confusão emocional, anos que  somente eu senti de forma muito intensa, mas de um vazio tão absurdo que olhando pra trás só consigo ver páginas em branco).

sábado, 6 de novembro de 2010

Arrancaram minha metade!

Estávamos a um mês limpos, felizes, cheios de planos, tínhamos conseguido! Eu principalmente tinha conseguido ficar sem droga, era uma vitória pessoal, não sabia como iria encarar o mundo, mas meu marido estava comigo e acima de tudo a nenê, então valia a pena tentar.
Planejamos um acampamento, desde que eu havia ficado grávida, praticamente não tínhamos mais saído de casa, estava na hora de voltar à vida e dessa vez iríamos levar nossa filha.
Era uma terça feira 09 de janeiro. Eu fui ao medico com a nenê, pra ver que cuidados eu precisa ter com ela (repelente, alimentação, toda prevenção necessária pra se levar uma criança pra acampar).
Quando voltei pra casa, senti algo estranho, o dia na verdade estava estranhamente calmo. Abri o portão, meu irmão veio pegar a nenê do meu colo, eu perguntei o que foi ele não disse nada, na frente estava minha irmã, meu cunhado e o Eri me esperando, eu perguntei o que foi, o que aconteceu, aconteceu alguma coisa com o meu pai? ( meu pai não andava bem de saúde por aqueles dias) e minha irmã me falou: Foi teu marido.
O que houve com ele?... Ele morreu! Como assim... é brincadeira é mentira, é mentira e desmaiei, voltei minutos depois, meu cunhado me pondo no sofá e no primeiro instante nem chorar conseguia, quis saber o que tinha acontecido. Disseram que foi acidente de moto na marginal, extremamente violento ( não consigo descrever os detalhes, dói demais isso). O caixão dele estava lacrado. Ele tinha 30 anos, saudável, lindo, uma das raras pessoas que conheci, que convivi, que amava a vida, como eu até hoje não consegui amar.
Meu mundo acabou nesse momento, nós não éramos um simples casal, nos éramos o casal!. Nos amávamos de verdade. Perdi meu marido, amigo, companheiro, pai, filho, perdi pra morte, acabou.
Passei um ano na casa dos meus pais, não conseguia voltar pra minha casa, voltei pra desmontar moveis, queria mudar tudo.
Enlouquecia gritando, chorando me batendo, que dor absurda a de se perder quem se ama pra morte, dor maldita.
Não me importava mais com nada, já não tinha mundo que me coubesse, nem nas drogas, nem o normal, foi muito doentio esse momento na minha cabeça, na minha dor, na minha vida.
Nem minha filha me importava eu não me importava com nada, só queria morrer e mais nada.

Um ano depois comecei aos poucos a reagir, não conseguia trabalhar, comecei a receber pensão do meu marido ainda bem, eu não sabia mais o que fazer com  a falta de dinheiro. Eu tinha uma filha pra criar e toda uma casa pra sustentar, estava de volta à minha casa, só eu e minha nenê, com toda a dor do mundo. Mais apegada a Deus a minha fé, do que nunca na minha vida (foi minha fé, independente de religião que me fez recomeçar depois desse maldito acontecimento).
Mas nada mais me alegrava, saia com minha irmã e amigos delas, mas não via graça em nada, voltei a me relacionar e foi horrível, sentir outro corpo, porque não era aquele que eu queria. Nada estava bom, nada prestava, nada!
O choque foi tamanho, que aquela tontura que eu vinha sentindo há anos, se instalou de vez, me tornei doente, nem sabia o que tinha mas estava doente, física, emocional e espiritualmente. A idéia de morrer não saia da minha cabeça e qual o caminho que eu conhecia?.. Das drogas, voltei a usar pra literalmente morrer, voltei a injetar, voltei a cheirar, às vezes fumava maconha, porque era também uma forma de tentar amenizar a dor. Queria sumir desse maldito mundo, não pensava em outra coisa. Nem na minha filha, minha família nesse momento foi fundamental, cuidaram, não somente dela como de mim também.

Nossa!, vocês tem idéia de como foi difícil escrever isso, eu queria dar mais detalhes, mas eu não consigo.Vai fazer 12 anos que meu marido morreu e eu o amo, sempre amei e sempre vou amar. Nem é luto, é amor. Fiz terapia, estive em religiões, conversei com pessoas que havaim passado por essa experiência pra tentar aceitar essa dor e entender esse sentimento que esta além da morte.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Voltando às drogas

Quando minha filha estava com exatos 3 anos achei  “que já estava na hora de parar de amamentar...rs” ela me sugou por completo ( mas não tem prazer melhor que dar de mama a um filho, é sublime!), estava muito magra novamente, desmamentei e aguardei exatamente uma semana pra ver se ela não ficaria doente pela falta do amamentação, chorei mais que ela, sofri mais que ela ( sou sensível ao extremo em conseqüência chorona..rs).
Tudo bem, ela estava ótima, graças a Deus.
Era hora de voltar ao meu mundo, porque não agüentava mais viver nesse mundo que não conhecia e não gostava.
Eu e meu marido saímos de moto e  fomos fumar maconha com haxixe ( o néctar da maconha). Chapei por completo, ri das árvores, que saudade de sentir aquela sensação, como era bom estar de volta ( é exatamente assim que pensamos, é assim que sentimos, antes de chegar ao fundo do poço, eu ainda não conhecia o fundo, vi conhecer anos depois).
Nos 3 meses seguintes, voltei a cheirar, muito, muito. Um amigo do meu marido (vou chamá-lo de Eri) , que se tornou meu também, fazia parte de nossas vidas, estávamos sempre juntos, usando juntos, em casa ( eu sempre atenta com a nenê, não descuidei dela, na verdade vivia me vigiando, me policiando, ela estava bem, nunca deixei minha filha sem comida, sem banho, nada, fui mãe acima de tudo). Mas eu decai nas drogas, alguns amigos e até mesmo minha família começou a perceber que eu estava muito magra, eu como manipuladora que aprendi a ser , arrumei desculpas, todo mundo acreditou. Mas eu não estava bem, porque se voltei a usar só na sexta, depois foi sexta e sábado e em seguida estava usando a semana inteira, e piorando porque meu marido ia trabalhar e eu comecei a usar durante o dia, escondido dele.
Eu já não trabalhava mais, fazia 4 anos, havia saído da empresa um mês antes da ficar grávida e como decidi ser mãe em tempo integral, estava sem trabalho. Dona de casa, mãe e adicta mais que na ativa.
Três meses depois de ter retornado as drogas, vi que não dava, eu precisava parar, nós precisávamos, pois, tínhamos uma casa pra sustentar e acima de tudo uma nenê, não dava pra ficar gastando com droga.
E eu pela primeira vez senti vontade de parar. Não era uma vontade convicta, mas já era alguma.
Paramos. Isso foi no começo de janeiro de 99 ( eu estava com 32 anos). Passamos mal juntos, eu mais que meu marido, porque sempre usei mais que ele, e também porque já não tinha a mesma saúde que tive um dia a convulsão tinha me “detonado” fisicamente e acima de tudo psicologicamente.
Hoje: Quando um dependente químico tem uma recaída é a pior coisa, porque nós não recomeçamos, nós continuamos. A doença é latente, só fica à espera do primeiro gole, primeiro trago... e quando isso acontece voltamos exatamente onde estávamos, mais vorazes que nunca, como sempre digo estamos no ponto onde “uma é pouco e mil não bastam”.